domingo, 26 de dezembro de 2010
Canto de amor
quinta-feira, 25 de novembro de 2010
segunda-feira, 22 de novembro de 2010
Cada vez que se encontravam era como se fosse para sempre. Brilhava em seus olhos o desejo e a vontade. Eram o sonho um do outro, a grandeza do sentimento todo contido em apenas uma pessoa: pequenina. Do tamanho de seu abraço. Eram o gosto da felicidade, o sopro de alegria. O riso incontido. Desafiaram a improbabilidade do amor e fizeram emocionar ao mais cético dos chatos. Iluminados pelas estrelas dançaram uma valsa envolta pela noite melancólica dos outros. Foram a inveja do mundo, quando conseguiram chegar ao céu, abraçados, apaixonados. Deitaram nas nuvens e viram a face de deus, enquanto chovia lá embaixo. Foram tudo que as pessoas comuns apenas sonharam. Realizaram seus sonhos no espaço curto de um beijo. E cada novo beijo era um novo sonho que surgia e enchia o mundo de alegria e cores vivas. Cada beijo era um novo gosto: brigadeiro, chocolate, morangos, chantilly. Cada aconchego um novo calor, um novo abraço, um novo toque na pele. Cada vez que se encontravam eram completos, eram puro amor. Cada segundo de suas vidas valia a pena por aquele momento. Todas as dores de se viver, toda melancolia e tristeza era um pequeno detalhe insignificante, quando se encontravam. Quando se encontravam, eram eternos, para sempre, improváveis seres perfeitos. Quando encontraram o lugar ao qual pertencem. Encontraram-se.
terça-feira, 16 de novembro de 2010
Havia algo estranho no ar daquela noite. Acredito que ninguém saberia dizer exatamente o que, mas, a desforra estava preparada há muito tempo. Não se sabia, mas alguns puderam sentir – como uma brisa que corresse pelo vão da porta, ou uma rajada aterradora passeando pelas ruas desertas. Eu? Eu senti. Estava sentado imóvel havia algum tempo no parapeito de minha janela, pensando no que havia para pensar. Olhava para a rua lá em baixo, em tons cinzentos de cidade grande, quando um arrepio, um leve sopro de verdade me inspirou medo.
Tive medo do que haveria de acontecer a tudo e a todos.
A vida é como subir num palco pela primeira e derradeira vez, sem direito a ensaio. Quantos erros poderiam ser evitados se houvesse uma prévia conversa a respeito. Mas é aqui e agora. Pela primeira e ultima vez, sem emendas. Existe uma coisa que faz parte disso tudo que é a forma pura da crueldade divina: o amor. Que não se repete jamais, nunca ninguém o conheceu duas vezes com distintas pessoas. A vida em si é algo ligeiro e ineficaz, agora o amor é insignificante. Por mais que alguém lute por tê-lo em plenitude, nunca basta! Droga viciante. Sempre se quer mais e mais e mais. Mas, acaba. O amor é uma ironia. Todos devem rir de uma pessoa que ama, agora e para sempre – inclusive Deus.
A alma de quem ama se dilacera. Ela acredita que nunca foi completa e espera ser recomposta pelas mãos do ser amado. Espera ser esculpida numa forma perfeita, pelas mãos da única pessoa capaz de encontrar seu verdadeiro sorriso por debaixo de tantas tintas borradas. A alma de quem ama não existe, ela espera ser completa em conjunto: ela espera a outra alma capaz de lhe fazer plena.
O amor é improvável.
Naquela noite, uma pobre alma apaixonada encontrou a limitação de seu amor. Coisa que nunca haviam dito a ela que existia. Até então tudo era fraco demais perante a força de vontade da paixão. Mas o amor encontrou seu maior adversário, não ser amado em retorno. Parece tão bobo de sua parte, amar tanto para não ser amado no final. O destino é sarcástico demais com seu sorriso gasto. Quando procurou nos olhos do ser amado por alguma coisa que não palavras vazias e promessas desfeitas, não encontrou nada além. Aqueles olhos continham em si sua própria mentira. Não havia olhos ali, não havia nada.
Fechou seus próprios olhos e encarou o amor que sonhava, em sua imaginação. Sem encontrá-lo onde esperava, ou seja, naquele ser em sua frente. O amor todo estava contido apenas em si, era uma mentira bem contada – havia se convencido daquilo sem nunca ter visto, apenas sonhado. Agora que procurava a mão companheira para enfrentar a vida juntos, não encontrava dedos nem pele, a idéia de amor sucumbira a realidade e o que restava era fumaça onírica de alguém moldado pela loucura.
Pediu, pediu... Gritou porque queria acreditar. Nada veio, nada ficou. Ela se foi, carregando suas lembranças, seus beijos. Ele se foi, carregando seus sonhos debaixo do braço. Caminhando a esmo pela dura realidade, agora inquestionável. Deitados a noite em seus travesseiros, não se conhecem, não se encontram. Não são. Inexistem. Não sonham um com o outro ou se desejam. Eles deixaram para trás a parte mais bela de suas vidas. Esqueceram como é que se faz para amar.
segunda-feira, 15 de novembro de 2010
"O principal herói deste livro é o relacionamento humano. Seus personagens centrais são homens e mulheres, nossos contemporâneos, desesperados por terem sido abandonados aos seus próprios sentidos e sentimentos facilmente descartáveis, ansiando pela segurança do convívio e pela mão amiga com que possam contar num momento de aflição, desesperados por “relacionar-se” e, no entanto desconfiados da condição de “estar ligado” em particular de estar ligado “permanentemente” para não dizer eternamente, pois temem que tal condição possa trazer encargos e tensões que eles não se consideram aptos nem dispostos a suportar, e que podem limitar severamente a liberdade de que necessitam para — sim, seu palpite está certo — relacionar-se..."
Zygmunt Bauman
segunda-feira, 25 de outubro de 2010
domingo, 10 de outubro de 2010
sábado, 9 de outubro de 2010
segunda-feira, 4 de outubro de 2010
domingo, 3 de outubro de 2010
sábado, 18 de setembro de 2010
quarta-feira, 8 de setembro de 2010
segunda-feira, 16 de agosto de 2010
Por que você? Por seu beijo; por seu cheiro; por seu corpo; por seus lábios; por seu sexo; pelas marcas vermelhas em sua pele depois do sexo; por seu olhar desconcertado quando digo que te amo; por sua cara de brava com dedo em riste; por seu orgasmo delicado e arfante; por seu calor que me esquenta debaixo das cobertas; por seu calor que me esquenta até ao suor, arfante, extasiado, na hora do amor, menina caliente; por seus olhos; por seu nariz; por suas mentiras, que tentaram me fazer feliz, eu acho; por você ter tentado me fazer feliz; por seu pé direito; por seu umbigo intocável; por sua voz ao amanhecer; por sua voz ao telefone; por sua voz calada; por sua indiferença; por seu amor; por seu toque; por seu medo; por sua incerteza; por suas crenças; por suas mãos; por suas frases de efeito; por sua preguiça mimosa; por seu abraço; por seu café; por suas caretas; por nossos sonhos; por nossos erros; por nossos enganos; por seus textos; por seus seios; por seus segredos; por suas roupas; por você sem roupa; por seus vícios; por seus livros; por seus discos; por seus sons; por seus silêncios; por suas crises; por suas brincadeiras bobas; por sua boca cheia de brigadeiro; por suas gordices; por sua falta; por sua presença; por conta dessa saudade; por conta desse desejo; por suas calcinhas coloridas; por sua cara de safadinha; por seus filmes favoritos; por tudo o que eu te disse sem mentir; por tudo o que você me convenceu; por tudo o que ainda não fizemos; por seu orgulho; por seus defeitos;
Por que isso? Porque se eu respondesse a essa pergunta com um simples “sim”, você conseguiria ler tudo o que eu disse ali em cima em meus olhos apaixonados. Porque você sabe o que eu sinto, sem eu precisar dizer, porque eu sei o que você sente, sem você precisar dizer. Porque somos isso – sem mais nada, nem ninguém. Eu acho. Porque eu posso estar errado, mas não vou me arrepender de ter acreditado nisso tudo.
Por que você? Por você!domingo, 25 de julho de 2010
sábado, 24 de julho de 2010
quarta-feira, 21 de julho de 2010
domingo, 18 de julho de 2010
Mágicas de trapézio
Estavam sentados um de frente para o outro, mas, mesmo nessa posição, às vezes, as pessoas não se enxergam. Eles se entreolharam e poderia dizer que todos sabiam que algo sairia daquele olhar. O garoto deu um sorriso comprometedor que dizia “eu vou aprontar” e, a garota, com um olhar pernicioso entrevia “ele vai aprontar”. Ela mordeu o lábio inferior com seu dente canino superior, o que lhe dava um ar ainda mais maroto, enquanto esperava até ele fazer alguma coisa. O garoto se remexeu todo no banco em que estavam sentados – um banco azul, pintado da cor do céu, ou da cor que mais chegou perto de se parecer com um céu. Ele não demorou muito para mostrar suas presas. Fez um movimento ligeiro com as mãos e disse:
- Quer ver uma mágica que venho treinando para te mostrar?
A garota, acostumada com essas idéias repentinas e absurdas de seu garoto, respondeu:
- Para mim, não é? Sei!
Ele fingiu ignorar o tom irônico, reação que a deixaria ainda mais brava. E, num passe de mágica, passou a mão por aqui e por ali e de repente tirou de trás da orelha da garota... nada! Uma coisa notável, sua mão voltava repleta de nada. Ninguém sabia de onde ele tinha tirado aquilo, de trás da orelha da garota que não era! Mas, ali estava, uma mão cheinha de nada. Ele disse, para a garota boquiaberta:
- Aqui, todo o amor que eu posso oferecer para alguém. Estava guardado atrás de sua orelha todo esse tempo.
E assim, num outro passe de mágica, igualmente ligeiro, aquele nada todo virou em um tudo enorme. Era amor à primeira mágica. Diga-se, não vi ele fazer esse truque para mais ninguém, além dela. Ele não era um Don Juan das cartolas com coelhinhos.
Então, ambos se levantaram do banco azul da cor do céu. Se olharam outra vez, procurando um pedacinho de mentira naquele momento eterno e, como não encontraram nada de errado ali, ficaram assustados. Se beijaram de todas as formas possíveis num único beijo ligado a outro e a outro e foram embora. Ele tinha um espetáculo de mágicas no circo para dali a meia hora, ela tinha uma vida de verdade para a qual voltar. Nunca mais se viram e o garoto se tornou um atirador de facas amargurado e distraído – combinação bastante perigosa essa.
Um barquinho de papel numa poça...
Um barquinho de papel numa poça...
Todos a bordo, vamos zarpar! Soltem as amarras, soltem tudo que lhes prenda ao chão, vamos navegar. Balancem seus lenços multicoloridos na balaustrada, e gritem seus adeus emocionados: au revoir. Esse é o maior barco que jamais existiu. Esse barco jamais existiu. E eu sou seu capitão-imaginário.
Um barquinho de papel numa poça...
Corram soltar aquelas cordas, esse é dos grandes! Se não deixarmos que ele volte para o oceano, nos afunda o barco todo, marujos! Não cobicem o que não podem ter, não mesmo. Se querem pescar, vocês tem que saber quando é pequeno demais e quando é grande demais para levar para o mercado. Alguém lembra o conto o velho e o mar do Hemingway? É uma história muito interessante para o momento... Certo, certo, sem divagar, sem divagar, temos primeiro que nos desvencilhar desse peixe fisgado que nosso barco não suporta. Cortem essas cordas! Deixem-no ir... Ou morreremos tentando!
Um barquinho de papel numa poça...
Um estranho som. Parecia vir de dentro da própria cabeça de quem ouvia, parecia vir de todo lugar. Ninguém sabia dizer o que era, mas todos ouviram. Alguns fizeram o sinal da cruz, outros cuspiram no chão. Teve alguém que gritou um palavrão e depois falou o nome de seu santo, não sei se xingando o santo, amaldiçoando sua própria sorte ou tentando fazer-se escutar com mais eficácia por seu padroeiro. Surgiu algo como uma tempestade, o oceano estava revolto e tiveram que lutar muito por manter o barco e seus pescoços fora da água. Todos tinham experiência com tempestades e todo tipo de agrura, mas nunca nada como isso. A tormenta parecia vir de baixo, do fundo do mar. Junto com o som indefinível. Por um instante ficou tudo calmo. Não havia mais ruído, nem tormenta. O Capitão abriu a boca com o grito...
- Vamos sair logo daqui, seus...
Mas ninguém ouviu o resto da frase. Uma coisa, que ninguém soube dizer o que era, levantou-se de algum lugar amaldiçoado daquelas águas com um ganido ensurdecedor que não parecia dor ou qualquer coisa e, definitivamente, não era um desejo de boas-vindas. O Monstro gigantesco jogou o barco longe com o movimento de levantar-se, os marinheiros gritavam, choravam, morriam aos baldes. O monstro matou mais tripulantes de susto do que o próprio oceano, pegou o barco com tentáculos que saiam de seu rosto e jogou-o fora. Olhando daqui, poderia ser dito que ele queria brincar de assustar aqueles homens – e funcionou, morreram de susto, inclusive. Também, aquele monstro era incomensuravelmente... feio!
Um barquinho de papel numa poça...
“Essa é minha última mensagem para o mundo e espero que alguém leia, algum dia, pois fui escritor, mas não escrevi. Essa era para ser minha viagem em reconhecimento do mundo, onde veria coisas maravilhosas e escreveria sobre elas como ninguém. Tivemos problemas, passando pelo cabo da boa esperança, enfrentamos uma tormenta dos diabos. O barco sucumbiu e com ele boa parte da tripulação. Restamos apenas o capitão, sua esposa e a mim – acho que havia lido em algum lugar que mulheres a bordo dão má sorte... Péssimo modo de começar a acreditar em superstição marítima. O capitão estava ferido, escorregou no convés durante um passeio matinal e fez um corte imenso na perna direita, jeito engraçado de se machucar, com ondas que tinham duas vezes o tamanho do mastro durante o auge da luta entre homens e mar, ele foi logo escorregar e cair, num dia ensolarado e fagueiro. Por sorte restou intacta sua perna de madeira. O corte infeccionou e, depois de alguns dias a deriva, fiquei acompanhado apenas da Judy, digo, Srª Judy. A comida era escassa, tínhamos apenas um kit de sobrevivência que o capitão gostava de manter por perto e parecia agora viria a calhar, mas, a infelicidade rondava aquela nau porque alguém mexeu nas coisas do capitão e comeu todo seu estoque de bolachas salgadas e iogurtes que haviam na bolsa. Não que eu ache que se ainda estivessem lá, ajudariam muito, nesse caso. Sem orgulho de dizer isso, tivemos que comer partes do corpo do capitão. E tentamos sem sucesso usar sua perna de madeira como remo, foi uma bela tentativa - falha. A Srª Judy enlouqueceu por conta de tanto sol e, para bem do resto da tripulação que ainda mantinha sua sanidade eu, pessoalmente, usei a perna de madeira do capitão para tentar assustá-la e com isso trazer de volta a sua razão, o que não deu muito certo, pois ela se assustou demais e morreu. Fiquei sozinho. Não como há vários dias, não sei ao certo quantos, perdi as contas de qualquer coisa. O Sol é quente demais por aqui e a água salgada me deixaria louco. Não sei quanto tempo o corpo humano aguenta nessas condições, acho que li um conto parecido, mas não recordo bem... Então, vou esperar para ver o que acontece e enquanto isso escrevo esta carta, tomo minha última garrafa de coca-cola, onde colocarei estas últimas palavras e aguardarei nelas ser encontrado, na forma de uma memória escrita e assinada por mim, caso não seja salvo a tempo...”
Ass. Sir Afogado Anônimo.
Um barquinho de papel numa poça...
- Alguém solte essa vela! Com esse vento teremos o barco partido ao meio! Vão, corram fazer o que mando! Já vi centenas de tormentas piores do que essa e perdi minha perna esquerda numa delas. Acham que isso me bota medo? Pois, Deus ou o Diabo terão de fazer muito mais para assustar essa carranca!
A tempestade não cessava, apenas se fazia piorar mais e mais. Os marujos por mais experimentados que fossem tiveram medo. Um a um caíram ao mar. O capitão não podia fazer muito, machucara sua perna direita há poucos dias e sua perna esquerda era há muitos anos de madeira – polida atentamente uma vez ao dia. Ouvia-se um toc toc assustado e veemente por todo o convés mas, apesar de ser lobo do mar, dessa vez o capitão não conseguiu salvar seu barco nem sua tripulação. A última coisa que viu antes de desmaiar foi um pedaço do mastro vindo em sua direção e só acordou quando já havia sol, no que restara do barco, com sua esposa e um tripulante que não lembrava o nome. Um escritor fracassado que tentaria a vida em alguma outra terra, ou que quisesse experimentar o mundo para poder escrever alguma coisa decente. Não conhecia nenhuma obra do garoto mas, esperava que tivesse escrito algo notável e deixado em algum lugar seco.
Um barquinho de papel numa poça...
Era um barco que botava medo mesmo de longe, mesmo quando ainda estava rondando o horizonte à procura de um porto, mesmo de perto, quando suas cicatrizes de guerra apareciam ainda mais claramente. Havia muitas lendas a seu respeito: era um barco fantasma, era um barco pirata, era um barco de piratas fantasmas, era um barco que cobrava impostos para a coroa. Ninguém sabia ao certo o que saía daquele convés, não sabiam sequer se era humano. Até que um dia, alguém sobreviveu ao ataque do barco misterioso.
Era um dia de mar calmo, agradável, alguns homens dormiam espalhados pelo convés. Alguém coçava sua perna de madeira. Até que ouviram um tiro de canhão, e os gritos de uma galera que se aproximava. A selvageria dos sons e palavrões que vinham daquele barco botaria medo até no cara mais durão. Tentaram fugir, mas a nau que vinha ameaçadora era mais leve, mais rápida. Aos poucos o mistério ia se dissipando e a tripulação fantasma se fazia cada vez mais humana: eram piratas. Famintos. Cheios de cobiça e pecados no baú.
Meteram duas balas de canhão antes de dizerem palavra. Chegaram com calma e tomaram o barco. Pediram tudo que tivesse de valor e isso incluia qualquer biscoito com camada dupla de chocolate e que não tentassem esconder porque o capitão tinha bom olfato! O Capitão era o próprio Barba-Grande! Uma lenda dos mares, um medo constante entre os tripulantes, uma inveja. Barba-Grande gritou, grunhiu e esboçou algum sorriso apenas quando encontraram o baú com biscoitos de chocolate e balas. Mandou que colocassem em seu barco e, nesse momento, viu-se a imagem aterradora que deixa marcas em todos que vêem aquela nau: a bandeira, negra, com uma caveira de ursinho de pelúcia ameaçadora que lhe observa e espadas enormes que formam um X.
O Barba-Grande se despediu, ao som de seu assobio desafinado, eu acho que era alguma das músicas do Beethoven. E o barco desaparecia devagar, no horizonte. Todos ficaram felizes por não terem morrido, por não terem sido jogados ao mar ou qualquer coisa pior. Mas, naquela tarde, o lanche não teve biscoito nenhum. E o sabor agridoce da perda do chocolate aumentava a raiva e o ódio. Aqueles homens eram a pura vingança!
Um barquinho de papel numa poça...
Estavam os dois sentados num pequeno barco a remos, onde mal cabiam eles e seus equipamentos de pesca. Mas, já contavam vários anos dessa prática sazonal de pescarem juntos nas férias. Juntando a calvície de um e os cabelos brancos do outro, somavam mais de um século de vida. Nem lembravam mais quando algum deles tivera a idéia de pescar, mas era uma ótima pedida, agora que o futebol ficava cada vez mais difícil de ser jogado até o final da partida.
Estavam os dois sentados, no meio de um lago, boiando pacientemente em seu barquinho de madeira com um furo ou outro que não era comprometedor. Tinham coletes salva-vidas e bonés para se protegerem do sol. Um isopor que suas esposas encheram de sanduíches e refrigerantes, mas que esvaziaram daquelas coisas supérfluas e colocaram cervejas até não caber mais. A idade veio, mas, um deles sem medo do câncer ou o que quer que seja, acendeu um cigarro no barquinho. Gostava de pensar que poderia ser o último, que poderia ser especial, que poderia significar absolutamente nada, ou poderia pegar um peixe de repente e ter que jogar seu cigarro longe, antes de terminar – tantas coisas que poderia ficar horas apenas brincando de imaginar.
- Esse lago não tem mais peixes e eu já lhe falei isso.
- Não seja ridículo, como poderia não ter um único peixe nessa água toda?
- Se eu chegar sem peixe em casa, a Gerta vai desconfiar.
- Desconfiar de que? Nessa idade? Ela acharia é muito engraçado você estar dizendo isso.
- Quer um cigarro?
- Mudamos de assunto, é? Quero.
- Voltou a fumar?
- Não, oficialmente.
- Acho que vi um peixe passando ali!
- Está vendo coisas, velho burro.
- Tem cervejas ainda?
- Para o resto da vida, eu diria.
Um barquinho de papel numa poça...
Um garotinho pega uma folha de papel, branca, que encontra no parquinho e corre até seu pai. Mostra o achado com um sorriso inquiridor, que não precisa de palavra.
- Um barco!
O pai dobra vagarosamente o papel, ensinando passo-a-passo seu pequeno como fazer, até a forma de um barco aparecer. O garoto já tentara por si só fazer suas construções em papel, mas seus barcos ainda não eram tão impermeáveis e seus aviões precisavam de mais penas. Seu pai que não viu no papel nada além de papel por muito tempo depois de sua infância, gostava de encontrar nos olhos do filho o brilho que tiveram seus próprios em outros tempos. Já fizera muitos Titanics e S. S. Qualquer Coisa, já colocara muitos cubos de gelo em locais estratégicos da banheira para os barcos afundarem, como pedia o filho em suas aventuras durante o banho. Já fizera até mesmo uma guerra aérea inteira, com sonoplastia e tudo. Não se pode dizer facilmente quem se divertia mais.
Hoje seria um barco. Mas, que barco seria esse?
O garoto pegou da mão do pai, quase sem terminar, seu novo brinquedo e saiu correndo. Chovera a noite anterior e havia uma poça ali perto. E lá vai um barquinho de papel a navegar – navegando a remos, a vapor, navegando a nado. Um barquinho de papel em um poça pode ser qualquer embarcação que você queira imaginar. Naquele dia, as aventuras marítimas foram as mais bravias e mais calorosas. Nunca os romances foram tão ardentes. Nunca as terras desconhecidas estiveram tão perto, nem os povos canibais amedrontaram mais. O mundo estava ao alcance de pequenos dedos, muito mais responsáveis do que os meus que escrevo hoje, para controlar tudo. Nunca houve pores-do-sol mais poéticos do que naquela tarde. Nunca, até o dia seguinte.
Um barquinho de papel numa poça...
sábado, 17 de julho de 2010
quinta-feira, 15 de julho de 2010
quarta-feira, 14 de julho de 2010
sábado, 19 de junho de 2010
Poema passageiro
terça-feira, 15 de junho de 2010
A Alma
domingo, 6 de junho de 2010
sábado, 29 de maio de 2010
sexta-feira, 28 de maio de 2010
quarta-feira, 26 de maio de 2010
Dialogue to the moon
segunda-feira, 24 de maio de 2010
domingo, 23 de maio de 2010
She stares me under the spot light. In the middle of this creep night, right between all things said and undone. I might wonder is cold outside, where the lights can’t easily turn on the darkest side inside us; I feel damn sure that is happening all over the place – people get hurt, they start to cry, some of them deserve to die and you couldn’t help anyway. But here stands this girl in front of me under the spot light and it shows me her appearance and even her soul is so clear. It’s hard to say exactly what she is doing right now, for sure she looks at me. I try to run away, at least hide my own eyes in my dirty clothes. Maybe I could be wronged and she is looking elsewhere. What is that freak light after all? Ain’t moonlight. Stop looking me asking why such things happen. I want to hold you against me and whisper all I know about life, the universe, you and me. I tell you what, say hello and I’ll walk to you. Say anything and I’ll walk to you, or tell me to go outside and be as cold as the night goes on.
sábado, 22 de maio de 2010
I used to be so comfortable with my assurances – and that means my own sadness, yet my crazy little crises on existentialism. By now all my self confidence is gone and I actually don’t know how to follow its steps anymore. What I was in the past walked away from me. The worst part is that it was not my fault. I mean, probably you’re judging me at this point, but guess what, I couldn’t help my sanity this time. See, there is a girl in the whole story, it starts with her and end up now that she isn’t here anymore. What I still feel about her is so fucking unbearable; because you can’t love that much one single woman, can you? It’s agonizing to see right into her eyes and just wish to be quiet feeling her breath in your own body. I past uncountable nights messing with her hair after she slept and staring at her sleepy face in the pillow. I just loved playing with her hands and feet. I tell you what, talk to her in bed and smoke beside her after sex was so damn good that I can’t easily stop to think about all this. My earlier life was to be hard pressed into bad dreams, painful nights and days like nights. And then she came, dancing in my front door; that’s when I just met my madness. We got what all you people only can whisper about. What we lived could ruin some philosophical truths around the world about being happy. But God is a Bitch with a Big Bad B, you know? So it’s over by now. I can’t find myself without her anymore, what means nothing or even less to her and we still by ourselves. As she came by, dancing in my front door, she went away on a non starry night yet dancing and singing my music. While she walk away I want to call her back, but she can’t listen to me and keep on track. So I die in the road, I stop walking and don’t want to take a ride. Maybe she turns back and I’m afraid if I move a finger she couldn’t see me. I stay for a while. It could be forever. Anyway, my life is to be forever hers – she standing by me or not. Now I sit by myself in the middle of the street and look up to the sky, but not even a cloud of good luck, nor a single star has the courage to shine again. I gently scratch her front door to ask her to one more dance. I wish we could sing another day once again. I wish she at least hears my softly knock knock and maybe opens the door in funny pajamas asking me why the hell I took so long to came.
Night night, sweetie.