domingo, 27 de setembro de 2009

Puedo escribir los versos más tristes...

Puedo escribir los versos más tristes esta noche.

Escribir, por ejemplo: "La noche está estrellada, y tiritan, azules, los astros, a lo lejos."

El viento de la noche gira en el cielo y canta.

Puedo escribir los versos más tristes esta noche.
Yo la quise, y a veces ella también me quiso.

En las noches como ésta la tuve entre mis brazos.
La besé tantas veces bajo el cielo infinito.

Ella me quiso, a veces yo también la quería.
Como no haber amado sus grandes ojos fijos.

Puedo escribir los versos más tristes esta noche.
Pensar que no la tengo. Sentir que la he perdido.

Oír la noche inmensa, más inmensa sin ella.
Y el verso cae al alma como al pasto el rocío.

Qué importa que mi amor no pudiera guardarla.
La noche está estrellada y ella no está conmigo.

Eso es todo. A lo lejos alguien canta. A lo lejos.
Mi alma no se contenta con haberla perdido.

Como para acercarla mi mirada la busca.
Mi corazón la busca, y ella no está conmigo.

La misma noche que hace blanquear los mismo árboles.
Nosostros, los de entonces, ya no somos los mismos.


Ya no la quiero, es cierto, pero cuánto la quise.
Mi voz buscaba el viento para tocar su oído.

De otro. Será de otro. Como antes de mis besos.
Su voz, su cuerpo claro. Sus ojos infinitos.

Ya no la quiero, es cierto, pero tal vez la quiero.
Es tan corto el amor, y es tan largo el olvido.

Porque en noches como ésta la tuve entre mis brazos,
mi alma no se contenta con haberla perdido.

Aunque éste sea el último dolor que ella me causa,
y éstos sean los últimos versos que yo le escribo.

[P. Neruda]

sábado, 26 de setembro de 2009

Hoje vou levar você ao parque. Tomaremos sorvete debaixo de alguma árvore – até deixo que suje a ponta do meu nariz com o seu sorvete de chocolate, mas apenas porque, instantes depois, estará com boa parte do meu, sabor morango, em sua testa. Passearemos por entre as muitas pessoas que estarão por lá, absortos em um mundo que nós mesmos criamos, onde o parque e o resto são meros devaneios de algum louco. Carregarei você para o trem fantasma, com a esperança de que se assuste com algum monstro de mentira e me aperte a mão com força. Tirarei sarro se você tiver medo de algum brinquedo, mas não obrigarei que vá onde não quer. Tento ganhar um ursinho de pelúcia para você no jogo de derrubar todos os copos com uma bolinha, mas talvez seja você mesma quem vá conseguir tal feito e ficarei satisfeito com meu novo amigo sintético – mesmo tendo meu papel de garoto que quer impressionar roubado por sua melhor pontaria. Talvez o urso seja chamado Bob, ou Charlie, e que tal Teddy? Quando ele chegar, perguntarei seu nome. Da roda gigante gritarei alguma coisa, bem lá do alto, para todo o parque ouvir. Imitaremos o homem sombra, o que pensará o imitador de ser imitado? Vamos correr descalços pelo gramado e cairemos fatigados em alguma sombra para respirar, descansar... e depois chegar onde está armado o circo! Com seus palhaços amestrados, que cantam, dançam e sorriem ao mesmo tempo. Engolidores de fogo alcoólatras e de ressaca. Malabaristas, brincando com objetos pontiagudos no ar, e dançarinas de todas as partes do mundo. A pipoca tem gosto de pipoca de verdade, e você sorri um riso de verdade. Mais palhaços, mais macacos. Mais espetáculo. Agora vem o raivoso adestrador de leões, que perdeu o cargo depois que um de seus felinos se recusou a fazer o que mandava e bocejou para o público – em meio ao bocejo contaminado de toda a platéia ficou com duas opções: ou virava palhaço de uma vez, ou começava a atirar facas na mulher do acrobata. Atira facas desde então – a mulher do acrobata ora reclama que ele não tem pontaria alguma e quase a mata toda vez, ora reclama que seu marido exige demais dela na cama graças aquela desenvoltura toda com o próprio corpo, uma dupla infelicidade para a moça. Mais palhaçadas e senhoras e senhores isso é tudo por hoje. Cortina cerrada, nem uma viva alma no picadeiro e acabou minha pipoca. Pego sua mão e vamos embora por ruas cheias de lua até nossa casa guardada debaixo da cama em uma caixa de sapatos que só nós dois conhecemos. Entramos em casa e deitamos em lençóis azuis da cor do céu, você aninha sua cabeça em meu braço, puxo o cobertor repleto de estrelas e tiro um pouco de poeira de sonhos que caiu sobre o travesseiro. Digo: boa noite, minha querida. Você sorri ainda um riso de verdade. E adormece, no quarto recém criado.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

São estas vontades que me importunam miseravelmente – e estas esperanças que me distraem. Tão bom seria esquecer as coisas que me desagradam, mas então deixaria quase tudo para traz – lembraria quase nada. Maldito pessimista, que não vê graça na vida – que como eu, não vê graça em nada.
Eles continuam me chamando.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Eu conheço você por debaixo da maquiagem, cada traço mal traçado e marcas demasiado profundas. Procurei justamente os arranhões que sua vida deixou impressos em seu rosto, as meias-tintas que os podem cobrir não me são suficientes. Mexi em sua bagunça, porque todo bagunceiro encontra tudo o que procura, nos lugares mais inusitados em que largou alguma coisa, e ninguém entende como isso acontece. O quê é isso além de ser plenamente você em estado bagunçado? Mais do que a perfeição do seu sorriso, eu amo a desorganização de sua vida que é tão-somente sua e de mais ninguém. Cada bagunça é unica de seu dono, mas quantos milhares de sorrisos iguais eu encontro? Com muitos ou poucos dentes, meia-boca ou boca e meia. E a sua bagunça só você conhece, você não a disfarça. Ao contrário daqueles outros cantos muito organizados da sua vida, que se escondem debaixo do tapete, eu prefiro a poeira na parede e o pó nas janelas. Desconcertante sujeira, eu não reclamo, sou todo trapos mal lavados. Guardo um segredo, te vi sem maquiagem. Gostei do que li em seu rosto. Adoro seu corpo todo marcado. Tenho esse amor todo louco pelo seu inconveniente, enquanto os outros te ignoram tudo. Eu olho para você e procuro enxergar lá dentro, onde você é tudo o que quer ser. Eu vejo como você é linda sem maquiagem e me procuro, lutando contra a sombra em seus olhos, em algum lugar mais perto de você do que o resto das coisas. Eu vejo uma cicatriz sussurrada para fora da pintura e me pergunto se esse sussurro é para mim ou é para toda a noite. Concordo com o mundo ao nosso redor: você é maravilhosa maquiada. Mas sou todo suspeito para dizer isso, porque para mim você é linda mesmo ao acordar toda borrada por tintas da noite anterior, com o rosto achatado, abarrotado e amassado, com o travesseiro marcado nele. Devo dizer, contudo, que gosto sobremaneira da sua pintura, porque seu rosto dileto de muitos só eu conheço em plenitude e todo manchado.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

“Já é tarde, já é tarde” é o discurso voraz de minha louca insanidade – essa minha lúcida loucura que, quando vejo por aí, corre como uma criança inocente e chora como um velho rancoroso, acima de tudo voa (e muito bem), sai pela janela do quarto andar sem passos trôpegos, sem espera e voa. Que belas asas você tem, talvez sejam tão belas quanto as minhas. Mas as que tenho já se atrofiam e as que vejo são as suas. Talvez eu devesse te dar ouvidos, porque tudo em mim se atrofia – por falta de uso, ou por uso indevido. Será que se atrofia ou apodrece escarnecendo em longeva tristeza? Discurso loquaz esse teu, mas será que não te dou ouvidos? Talvez eu já esteja vivendo essa vida que você me criou.

Perdi o sono enquanto te desejava boa noite, quando disse “você vicia” sussurrado em teu ouvido. Agora, quando durmo, sou todo dormir sem sonhos. Agora, quando durmo, sou dormir sem ter sono, sou sonhar sem ter sonhos. Foi logo depois de você adormecer que vi passar minha loucura com suas belas asas eternas me chamando. E agora eu olho alheio, enquanto espero, absorto. Mas eu olho, e vejo, aquilo que meus delírios já diziam, enquanto todos e eu mesmo apenas olhavam para eles e sorriam. Já é tarde, já é tarde, agora sou eu com as mesmas falas de minha insanidade solícita.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

As lembranças em minha cabeça se misturam e pavoneiam para de madrugada virarem em pesadelos que me incomodam e acordam, me dissolvo em reminiscências. Me perco em um sonho demasiado triste. Muito sono e poucos sonhos, e quando sonho é isso. Vou esperar que amanheça, para me esconder debaixo de alguma qualquer coisa. Deitarei em algum canto, e adormeço. Vivendo a vida a contra gosto.

Resto
de nada
caco
velho

jogado às pedras
para que apodreça.

sábado, 5 de setembro de 2009

Vou fazer um caminho com o perfume que você gosta até a minha cama, e não deixo você nunca mais sair. Livros, vícios, filmes e sons, deixo tudo debaixo do travesseiro, escondidos com um carinho exagerado, para que você encontre todas as noites tudo isso, comigo, em todo momento ou algum dia. Tenho um pouquinho de cada coisa que você gosta bem aqui, aquilo que você foi deixando de si mesma comigo e que agora faz parte de mim. Silêncio e sombras, guardei um monstro no armário e alguns medos debaixo da cama, para o caso de você precisar deles. Algum susto, por diversão. Pintei estrelas pelo quarto e apaguei a porta do lugar. Não preciso do mundo lá fora. Delírios insensatos de uma mente ingênua, desenhar o céu para que você possa tocá-lo. Por outro lado, sua própria ingenuidade talvez não deixe que perceba que esse céu estrelado - desenho mal feito - só passa a ser real depois do seu toque.

terça-feira, 1 de setembro de 2009