quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Cansei de escrever sobre você. Tomei outro copo de café, acendi mais um cigarro e a máquina de escrever continua tec-tec-tec incessantemente em minha orelha contando essas histórias. Cansei. Não havia como continuar pra sempre ouvindo essas mesmas histórias sem um dia cansar e trocar a folha, a tipografia e a máquina. Trocar de quarto, de marca de cigarro e uma nova vida. Mesmo a lembrança mais acalentada, a saudade mais gostosa... Tudo acaba um dia, porque existe uma parte do cérebro chamada campo do esquecimento, e ali se perdem as coisas que não são recorrentemente lembradas. Aos poucos a memória falha, logo fica difícil lembrar as suas coisas mais características. Como era mesmo que você atendia ao telefone? Lembro vagamente a maneira como você dormia. Está tudo muito distante. Não tanto não tanto, ao alcance da mão, de um telefonema. Mas, se não bastasse todos os problemas desse lugar, as pessoas insistem em criar mais alguns. Não basta ligar, você se convenceu de que é melhor assim, sem mim. Eu me convenci que consigo esquecer você. Estamos certos? Só deus sabe. Estamos certos de alguma coisa, se isso é a coisa certa a fazer, ninguém sabe. Esquecer é uma maneira de encarar as coisas. Vou contar uma coisa pra você: um dia ainda apareço na sua casa de madrugada, ou ligo bêbado pra você, ainda faço uma loucura e digo na sua cara “escuta aqui, menina, eu amo você” aí então, (ah!), aí então ninguém me segura; eu seguro você num abraço como ninguém jamais e faço-nos lembrar daquele beijo de quando nos conhecemos; aí então eu acordo em minha cama com suas lembranças debaixo do travesseiro. Mas, que importa? Amar é isso, às vezes dá certo, noutras não. Sorte daqueles que encontram um amor pra ficar por perto, o meu está lá longe, bem longe e nem sei onde. Mas, que importa? O que importa é amar, afinal de contas. E disso eu entendo, porque amei demais essa menina. Está bem, vou acender mais um cigarro e voltar pra máquina de escrever pra falar mais de você. Está bem, que mal há nisso?! Tec-tec-tec. Vamos lá, novamente. Houve aquela vez em que...

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Sonhei contigo esta noite. Era como um turbilhão imagético de lembranças - beijos e abraços, mordidas e carícias - e BUM explodiu deixando pedaços de saudade pra todos os lados. E pronto, foi a ruína de meu dia, a pior parte de meu dia; todo o meu dia foi pensar em você. Uma confusão confluência convulsão de imagens / Uma confusão confluência convulsão de saudades. E pronto, todo o meu dia foi pensar em você. Acordei, sim. E daí? Que me custa continuar sonhando, ainda que de olhos abertos não tenha tanta graça. Se me lembro bem, houve grandes promessas. Muitas mentiras e um pouco de amor. Sexo pra apimentar a relação. Noites em claro, brigando, trepando, sonhando. Se me lembro bem, porque há tanto tempo atrás que já nem sei mais. De que você lembra? Espero que esqueça algumas coisas e fique com outras, as melhores. Se me lembro bem, prometemos que seria pra sempre. Mas, quantas vezes não prometemos isso pra tantas outras pessoas, nem sei. Todas as promessas parecem eternas, mas no fim, sim, tem sempre um fim. E acabou, ela se foi e foda-se. Restaram migalhas efêmeras de saudade passageira que se vai que já foi por aí rumo a infinitas desventuras na terra do esquecimento.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

É uma proeza: amar tanto uma pessoa. É como um truque de mágica, um daqueles com cartas. Parece mentira. Uma piada de palhaço. Um lenço que sai da manga vazia. Parece o picadeiro em chamas pelos aplausos calorosos das crianças. É o riso sincero. A entrega completa. É uma proeza que só se vê no circo. A maquiagem exagerada do palhaço está borrada de tanto sorrir e o vermelho na ponta do nariz que já está roxo pela falta de ar e dor-de-barriga-borboletas-no-estômago-eu-te-amo. Amar é inacreditável. Parece mentira. É como o tombo e as calças largas, a alegria e as cores do circo, os sorrisos e a pipoca, algodão-doce e muita porcaria, coisas que cabem no picadeiro, que cabem na ponta dos dedos. É Como andar na corda bamba, sapateando, de costas e com os olhos fechados, prendendo a respiração, pensando em você. É o encontro do equilibrista, com seus sapatos enormes sobre a corda que rebola, e a trapezista, com seu bailado inacreditável sobre a cabeça de todo o mundo. Um encontro inimaginável, um beijo aéreo. Um beijo mágico. Tirei um coelho da minha cartola, ele olhou pra mim e disse seu nome. Amar é inacreditável.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

É uma saudade que eu tenho: carrego debaixo do braço pra cima e pra baixo, e quando tenho tempo começo a folheá-la pra lembrar. É como um livro com ilustrações, a história dessa falta que você me faz e ponto final. Um monte de palavras que não dizem nada, que às vezes leio pra mim, antes de dormir. Uma comédia sem risos uma tragédia sem pranto. Pode ser tudo ou nada, qualquer coisa-e-foda-se. Início meio e fim e foi. Não precisa fazer sentido ou ser moralista, nosso amor sem fim que acabou em determinado parágrafo. Às vezes parece poesia noutras-é-pura-insanidade-sem-pontuação. Já não sei se escrevo pra esquecer ou pra lembrar, mas continuo escrevendo sobre essa saudade. Que não existe além de minha subjetiva capacidade criativa de imaginar que você não possa existir sem mim. Fora do alcance de meus dedos, nada existe nem me importa. Contudo, dentro dessa ilusão construo nosso universo perfeito onde você ainda é a garota de meus sonhos. Metaforicamente retóricamente sem meias palavras ou palavra e meia simbolicamente sintaxe ponto e vírgula o caralho a quatro na ponta da língua: sinto-sua-falta-ponto-final.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Convido você a amanhecer comigo. Falar besteira ao pé do ouvido. Fazer besteira ao pé da cama. Observar o quarto ficar cada vez mais claro e discernir finalmente nossos corpos enrolados, embolados, emaranhados. Vou cantar, desafinado, alguma canção pra você dar risada. Sussurrar alguma frase surrada na maior cara-de-pau. Abrir uma cerveja gelada e acender um cigarro, pensar na vida em longas tragadas. Ligar a TV e sintonizar em qualquer canal. Deitar em seu colo e cochilar brevemente, pra ter a impressão de que acordo a seu lado. Deitar contigo e cochichar segredos adormecidos desejos repentinos e vontades safadinhas. Vou sussurrar e gritar Beijar e morder Amar e odiar. Tudo antes que amanheça mais uma vez. E se clarear o dia, vou fechar a cortina, pra que isso nunca termine. Fecharei a janela e trancarei a porta pra que esse momento nunca escape pelas frestas de meus medos. Agarrarei cada instante impalpável da maneira que puder, pra que não escape entre meus dedos. Como se eu não pudesse tocar jamais esse pedaço de alegria.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

É que não basta essa saudade pra mudar as coisas. Às vezes, nem o mais intenso dos sentimentos virulentos e violentos consegue desfazer o que está feito, e mesmo que você ame compulsivamente aquele pequeno momento dormente no passado que jaz em seus pés frios da noite fria da sua cidade qualquer que seja, nada muda, nada muda. Porque tudo mudou, acabou se desfez se apagou em brandas e intragáveis tragadas de cigarro durante a madrugada solitária. E se foi e se foi embora pra sempre ou por tempo indeterminado, porque nada existe sem que exista a crença em sua existência e se você perde a esperança na coisa toda a coisa toda morre e desaparece sem o seu consentimento alardeado pelo medo do esquecimento. E vai embora sem dizer mais nada, sem dizer coisa alguma, porque essa é a maneira mais fácil de partir: sem dizer coisa alguma. Porque, afinal, se você diz alguma coisa existe a possibilidade de ouvir uma resposta que talvez destrua todas as suas certezas então você não sabe mais nada, você não tem mais certeza de nada.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Buk

preciso de uma boa mulher, preciso de uma boa mulher
mais do que da máquina de escrever, mais do que do
meu automóvel, mais do que de
Mozart; preciso tanto de uma boa mulher que posso
senti-la no ar, posso senti-la
na ponta dos dedos, posso ver calçadas construídas
para seus pés caminharem,
posso ver travesseiros para sua cabeça,
posso sentir a expectativa da minha risada,
posso vê-la acariciar um gato,
posso vê-la dormir,
posso ver seus chinelos no chão.

eu sei que ela existe
mas em que parte deste planeta ela está
enquanto as putas continuam me encontrando?

Charles Bukowski

Quando esse Velho Safado não está falando de uma boa trepada ele chega a ser romântico. O que me incomoda é pensar se ele conseguiu encontrar tal mulher. Morto aos setenta e quatro anos, será que ele encontrou? Pode ter passado uma vida inteira procurando por uma coisa que nunca chegou, talvez tenha melhor sorte. Duvidar das coisas torna tudo mais doloroso, você sente em dobro. Preferia uma crença cega de que estou fazendo a coisa certa e ficar quieto no meu canto, mas não tenho essa dádiva então procuro e duvido de tudo e questiono esse absurdo cotidiano. Espero chegar lá um dia.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Sento à janela e sorrateiramente acendo um cigarro com um estalo da chama entre meus dedos. Sento e sinto o vento que carrega a fumaça pro lado de lá da minha vida no parapeito da janela entreaberta. Ouço a um passo abaixo o burburinho das pessoas que passam despreocupadas entre calçadas mal pavimentadas cheias de lixo e lágrimas. Vejo quando olham para cima uma centelha de vida, um resquício de morte e um pouco de maquiagem borrada escorrendo entre seus dentes amarelados pelo fumo e a fome. Dou uma tragada longa para encher os pulmões e solto mais uma nuvem da tempestade que se forma sobre minha cabeça, a tormenta que chega a passos brandos e calculados como algum filho da realeza. A real tristeza de caminhar pelo parapeito em prantos de sublime extemporâneo meditativo: nada. Passos brandos e calculados de algum filho da puta que acendeu um cigarro e joga a bituca ainda acesa na cabeça de alguém que passa lá embaixo despreocupado.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Ela continua existindo, sem mim. E o medo infinito de um dia perder tudo que tive está a meu lado, com a mão posta em meu ombro e dá uma batidinha. Diz pra não me preocupar que sabe o que está fazendo e não vai doer nada essa pitada de esquecimento. Eu perdi uma boa dose de qualquer coisa nessa última, tanto que nem sei o que me restou. Quando olho para trás encontro traços malfeitos, lembranças se desfazendo no ar rarefeito de meus sonhos de grandeza, aqueles mais ambiciosos e mesquinhos: estar feliz ao teu lado. Mas talvez seja apenas isso. Ela continua existindo, sem mim. Como se não precisássemos um do outro para tanto. E segue seu caminho adentrando novamente a parcela de mundo que lhe foi imposta, de volta pra realidade corriqueira pés-no-chão de cara com o concreto dessa vidinha mais ou menos que as pessoas levam vai-pra-puta-que-pariu-onde-estão-meus-sonhos-e-esperanças-minhas-vontades-e-meu-amor? Onde foi parar toda aquela gana de viver que escorria por entre meus dedos e cavava um sorriso em meu rosto? Sei não. Perdi pelo caminho, esqueci de fazer meu caminho de migalhas de pão pra saber como voltar depois. Estava ocupado demais sendo feliz nessa vida e esqueci de um monte de coisas, inclusive de escrever mais. Ocupado demais sendo o que sempre quis ser e se foi. Agora tive oportunidade de tocar em meus sonhos e experimentá-los devidamente, eis o gosto de algodão-doce no céu da boca estrelada - um beijo estalado no canto de seu lábio e um pedaço de saudade que recortei de meu corpo.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Meus pés e mãos estão gelados. Frios como se estivessem mortos antes da hora, foram sem mim e lá ficaram. Não sinto frio, nem qualquer outro incômodo. É uma coisa memorável, e invejada por muitas pessoas. Tudo o que sinto é um estranho peso em cada membro de meu corpo, como se eu fosse muito pesado para conseguir manter uma posição ereta e honorável. Parece que afundo no chão. Parece que a rua em minha frente se transformou em um precipício, e descer da calçada é como me jogar no vazio. Mas, nunca é. Sempre bato, invariavelmente, na solidez do asfalto chamado realidade. Caminho verossímil e cientificamente checado, além de testado diversas vezes no quesito sanidade. Esse frio é aquele, sabe? O famoso. O tal do encarar a triste realidade, dessa vez a de verdade. É a certeza, pela primeira vez na vida, de saber o que vai acontecer e não ter medo. Esse frio é não ter medo. A triste, a crua, a fria realidade. E lá vem ela me encarar novamente, do outro lado do espelho. Mas, dessa vez, sabemos o que fazer, não é? E do outro lado, o reflexo pisca para mim maliciosamente. Deve haver aqui, em algum lugar, um escrito que preste. Talvez se procurando. Ou talvez seja tudo fruto da minha imaginação. Pensando bem, a única coisa certa nessa vida é isso. Pisco eu desse lado do espelho e agora me vou para o lado de lá. Não entrego essa culpa a ninguém mais nessa vida, au revoir.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

I opened my door and faced emptiness. Knocked three times and heard my loneliness full of shit. I call the doorman to bring me piece. I cry for some sleep: try hard to find the key wich leads me to the rightous locked places. I look the empty space my door hided that now scares me once it's opened and not controled. The cold cold nothing that knows my name and say step forward, come to me and turns into what they all are deepest inside. I walk away then disappear into my desire. I walk into despair. Despair. Not to be.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Como se não houvesse amanhã, larguei tudo que havia em minhas mãos e sai correndo por aí, porta a fora, voando pela janela mal encaixada na realidade do cotidiano pintado a tintas que não combinam com minhas cores favoritas. Então deixei meus medos para traz e comecei a viver de minha imaginação que cria todo dia o que preciso para ser. Louco de amor pela vida, a relva debaixo de meus pés fazendo parte de mim, o cheiro de chuva que exala do asfalto quente, o som do vento no arranha-céu, a beleza do sorriso sincero no rosto daquele que sofre mas é feliz. Uma árvore que brota de dentro do concreto e é abstrata! Tudo que pude crer que era o belo jamais será tão bonito quanto apenas enxergar a beleza que existe em algo que não pode ser chamado arte. A coisa mais tocante é a arte natural que nasce em qualquer calçada, é a nota musical que ecoa de um motor, ou do canto de um pássaro, coisas inalcançáveis, inatingíveis, coisas que apenas são e não pedem licença para existir. Sentir o mundo em sua plenitude talvez seja mais bonito do que transformá-lo em arte. Morre-se tentando. E a luz do sol está lá fora, para queimar-lhe a face, junto com o vento que sopra para emaranhar-te os cabelos. Vá embora e manda um postal do infinito!

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Minha querida Bailarina,


Faço esse texto em sua saudade.

Isso aqui é um lamento com algumas rimas. Mal estar recitado, essa falta que você me faz virou arte. Saudade, saudade, saudade. E nem sei de quê. Se você aparecesse bem agora, eu não teria imaginação suficiente para fazer qualquer coisa que não lhe abraçar e ficar intocado, inabalável ao seu lado. Intoxicado com tanto amor no sangue que corre em minhas veias. Ataques, ataques, ataques, ataques epiléticos de prazer incomensurável por sua culpa, paixão de loucura. Pode parecer chato ficar quieto ao seu lado, mas há muita sinceridade em meu silêncio. Eu me explico calado.

Essa saudade toda ainda me mata algum dia! Ah, se mata! E não venha declamar então que me amava, porque aí vai ser tarde. Mas, eu terei imortalizado você em minhas letras e minhas dores. A exemplo de Kerouac, você é minha desamparada Tristessa. Minha bailarina de pés descalços que dança sobre a eternidade da noite e do céu, a imortalidade da alma reside no sentimento criado ao ver seus passos elegantes na imensidão do infinito. E você nem sequer se dá conta disso tudo que significa para mim, observar você. Tê-la em meus braços, abraços eternos.

Segura em meu braço e vamos embora! Para onde? Que pergunta boba: não importa!

Bosta, malditas memórias – queria essas lembranças esquecidas em qualquer lugar. Empoeiradas e bonitinhas como um álbum de fotografias que eu pudesse pegar só quando quisesse. Esconder no armário, debaixo da caixa onde está guardado o gosto de seu beijo e aquele seu falatório infinito sobre as mesmas velhas histórias que sei de cor e não me canso de ouvir. As gavetas em meu peito deveriam ter tranca, e que alguém mais sensato do que eu guardasse as chaves. Essa lembrança parece uma foto amassada e marcada pelo tempo, mas ainda muito nítida para conseguir jogar fora.

Ainda escrevo esses poemas, por quê? Por quem e para quem?

Um dia esqueço, mas não resistiria a escrever também esse esquecimento.

Estou aqui nessa selva de esperanças. Onde as árvores têm nomes de desejos e vontades, e as folhas multicoloridas no chão são sonhos despedaçados. Caminhando, caminhando, caminhando floresta adentro, densa, folhas escuras, algumas fogueiras: feitas pelos sonhadores decepcionados que resolveram se vingar de sua decepção queimando seus sonhos no meio do nada, calados. Melancolia de noite e de dia-a-a. Esse caminho não tem fim, acho que essa floresta na verdade está plantada em meu peito e tudo em volta são nossos desejosos planos que viraram nessa Amazônia dos sonhos! Quem diria que isso não viraria tudo em pântano e lama, muita lama. Que mal tem em dar uma de jardineiro e cultivar algumas impossibilidades plausíveis? Algumas dessas árvores parecem centenárias. Outras acabam de aparecer. Mesmo que todos achem que nessa terra não nasce mais nada, lá vou eu com meu regadorzinho e uma pontada no coração que grita essa pequena dor de saudade. E voilà, brotou outro sonhozinho ali, com pétalas azuis manchadas com branco.

Lá! Sentada na relva de minha saudade – ou nossa – está você, lendo um livro à sombra. Esse sol está mesmo de matar. Pronto, fez-se a noite. Aqui tudo é possível, é meu sonho de alguma noite de qualquer estação que eu quiser e sempre. É noite. Sentada na relva à noite, espera a minha chegada para o piquenique. Com algodão-doce e brigadeiro, só porcaria – mas que graça teria um piquenique saudável? Que graça teria um piquenique sem você? Eu não sei, nem me pergunte. Enquanto isso...

Para onde agora?

Ao circo, ao cinema, ao movimento frenético de nossos corpos entrelaçados em minha cama. Não tem mais rima em lugar nenhum! Cadê a poesia? É só saudade para todo lado, borrifando em meu rosto. Foi o Ferlinghetti que disse que nem todo o mundo tinha uma vida interessante para encher um livro sem revisão, não é? Acho que sim. Não devo ter uma vida dessas, mas minha única leitora é o que basta. E basta essa saudade para que todo texto seja pura poesia. Esse pedaço de saudade que sigo mascando como um chiclete que não tem fim nunca, como o do Willie Wonka. E esse amor é uma barra de chocolate dele também, com um sabor irrepetível, inigualável, que eu nem sei explicar que gosto que tem.

Minha linda Bailarina, um dia eu arranco essas suas malditas sapatilhas a dentadas e descubro se você é de verdade. Eu ainda amordaço essa sua mística e calo a boca de toda sublimação por parte da minha alma. Ainda falo contigo em algum café qualquer, fumando um cigarro infinito, de alma para alma. Desce desse palco e vem para a platéia comigo, vamos embora do teatro no meio do espetáculo – e pedimos o dinheiro de volta na saída! Eu ainda surpreendo essa gente toda por não ser o que deveria ser. Enquanto todos dizem “não, não” segura em minha mão e vamos caminhando por entre as fileiras – as cortinas ainda abertas, mas sem show essa noite. Sem maquiagem, sem texto decorado ou improviso santificado no altar da divina arte. É absurdo é surreal é belo mas não é arte. É pura invenção da loucura, que não nasceu para ser coisa alguma que não seja ela mesma – sem forma nem conteúdo. E lá vamos nós. Nus.

Chama o manobrista para buscar minha abóbora. Fechou o estacionamento, passa da meia-noite. Que bosta, vamos correndo correndo correndo, até chegar a lugar nenhum, sentar em algum banco de praça no vazio, com passagens de trem sem nada escrito nelas, sem destino, sem malas, sem trem. Acendo um cigarro e acaba a história, para começar outra, claro. Chegou o trem “mas não tinha trem” agora tem e já vai partindo com suas despedidas chorosas com lencinhos brancos, fumaça, fumaça, e alguém notou que não há trilhos: para onde vamos? Não sei! Não temos nem trilhos e você me faz uma pergunta besta dessas?!

Para onde agora? Só poderíamos saber juntos. Ou talvez já estejamos a caminho do tal lugar, e quem chegar primeiro espera um cadinho só. Estou chegando.

Dedico essas linhas a suas sapatilhas que dançam sobre minha cabeça atormentada pela loucura dessa

Saudade do impossível,

Bom dia, minha linda Bailarina.