quarta-feira, 26 de outubro de 2011

É uma saudade que eu tenho: carrego debaixo do braço pra cima e pra baixo, e quando tenho tempo começo a folheá-la pra lembrar. É como um livro com ilustrações, a história dessa falta que você me faz e ponto final. Um monte de palavras que não dizem nada, que às vezes leio pra mim, antes de dormir. Uma comédia sem risos uma tragédia sem pranto. Pode ser tudo ou nada, qualquer coisa-e-foda-se. Início meio e fim e foi. Não precisa fazer sentido ou ser moralista, nosso amor sem fim que acabou em determinado parágrafo. Às vezes parece poesia noutras-é-pura-insanidade-sem-pontuação. Já não sei se escrevo pra esquecer ou pra lembrar, mas continuo escrevendo sobre essa saudade. Que não existe além de minha subjetiva capacidade criativa de imaginar que você não possa existir sem mim. Fora do alcance de meus dedos, nada existe nem me importa. Contudo, dentro dessa ilusão construo nosso universo perfeito onde você ainda é a garota de meus sonhos. Metaforicamente retóricamente sem meias palavras ou palavra e meia simbolicamente sintaxe ponto e vírgula o caralho a quatro na ponta da língua: sinto-sua-falta-ponto-final.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Convido você a amanhecer comigo. Falar besteira ao pé do ouvido. Fazer besteira ao pé da cama. Observar o quarto ficar cada vez mais claro e discernir finalmente nossos corpos enrolados, embolados, emaranhados. Vou cantar, desafinado, alguma canção pra você dar risada. Sussurrar alguma frase surrada na maior cara-de-pau. Abrir uma cerveja gelada e acender um cigarro, pensar na vida em longas tragadas. Ligar a TV e sintonizar em qualquer canal. Deitar em seu colo e cochilar brevemente, pra ter a impressão de que acordo a seu lado. Deitar contigo e cochichar segredos adormecidos desejos repentinos e vontades safadinhas. Vou sussurrar e gritar Beijar e morder Amar e odiar. Tudo antes que amanheça mais uma vez. E se clarear o dia, vou fechar a cortina, pra que isso nunca termine. Fecharei a janela e trancarei a porta pra que esse momento nunca escape pelas frestas de meus medos. Agarrarei cada instante impalpável da maneira que puder, pra que não escape entre meus dedos. Como se eu não pudesse tocar jamais esse pedaço de alegria.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

É que não basta essa saudade pra mudar as coisas. Às vezes, nem o mais intenso dos sentimentos virulentos e violentos consegue desfazer o que está feito, e mesmo que você ame compulsivamente aquele pequeno momento dormente no passado que jaz em seus pés frios da noite fria da sua cidade qualquer que seja, nada muda, nada muda. Porque tudo mudou, acabou se desfez se apagou em brandas e intragáveis tragadas de cigarro durante a madrugada solitária. E se foi e se foi embora pra sempre ou por tempo indeterminado, porque nada existe sem que exista a crença em sua existência e se você perde a esperança na coisa toda a coisa toda morre e desaparece sem o seu consentimento alardeado pelo medo do esquecimento. E vai embora sem dizer mais nada, sem dizer coisa alguma, porque essa é a maneira mais fácil de partir: sem dizer coisa alguma. Porque, afinal, se você diz alguma coisa existe a possibilidade de ouvir uma resposta que talvez destrua todas as suas certezas então você não sabe mais nada, você não tem mais certeza de nada.