terça-feira, 28 de junho de 2011

Meus pés e mãos estão gelados. Frios como se estivessem mortos antes da hora, foram sem mim e lá ficaram. Não sinto frio, nem qualquer outro incômodo. É uma coisa memorável, e invejada por muitas pessoas. Tudo o que sinto é um estranho peso em cada membro de meu corpo, como se eu fosse muito pesado para conseguir manter uma posição ereta e honorável. Parece que afundo no chão. Parece que a rua em minha frente se transformou em um precipício, e descer da calçada é como me jogar no vazio. Mas, nunca é. Sempre bato, invariavelmente, na solidez do asfalto chamado realidade. Caminho verossímil e cientificamente checado, além de testado diversas vezes no quesito sanidade. Esse frio é aquele, sabe? O famoso. O tal do encarar a triste realidade, dessa vez a de verdade. É a certeza, pela primeira vez na vida, de saber o que vai acontecer e não ter medo. Esse frio é não ter medo. A triste, a crua, a fria realidade. E lá vem ela me encarar novamente, do outro lado do espelho. Mas, dessa vez, sabemos o que fazer, não é? E do outro lado, o reflexo pisca para mim maliciosamente. Deve haver aqui, em algum lugar, um escrito que preste. Talvez se procurando. Ou talvez seja tudo fruto da minha imaginação. Pensando bem, a única coisa certa nessa vida é isso. Pisco eu desse lado do espelho e agora me vou para o lado de lá. Não entrego essa culpa a ninguém mais nessa vida, au revoir.