quarta-feira, 5 de maio de 2010

Eu não aguento mais, preciso dormir. Não consigo, não consigo - não tem como. Não durmo de jeito nenhum, não existe droga que me bote a sonhar, nem uma sequer. O sono está aqui, a meu lado, rindo de mim; não consigo dormir. O que é que há? Já não basta tudo por que passei por sua causa, ainda quer me roubar a sanidade? Me deixa dormir, deixa. Cochilar um pouco basta e não peço mais. Eu quero algum remédio que me apague por alguns instantes, quero alguma receita que me faça escapar disso tudo - quero fugir daqui, e agora quero ir sozinho. Eu quero dormir, mas você não deixa, não é? Isso tudo lhe dá prazer, um prazer que você nem sente, mas está ali bem guardado para quando você lembrar; saber que meu mundo gira e vejo estrelas, não é? Nem que seja apenas por causa dos remédios! É o seu prazer que você não sente, só quando precisa muito de algum alento, quando não existe mais nada, então você pensa um pouco em mim. Que pena que não lembra que eu não tenho mais nada além de pensar em você, que não durmo por sua causa; que pena que você lembra que eu existo apenas quando não tem nada melhor para fazer. Eu não existo só quando você precisa - eu sou em todos os momentos, piores que sejam - estou aqui mesmo quando você me esquece para ser feliz em outro lugar; mas eu não tenho outro lugar para ser feliz, como você, eu não tenho para onde ir, preciso de você agora e não aos poucos. Importa? Não, não importa. Quem não dorme sou eu; quem quer se jogar pela janela de angústia, apenas por pensar que hoje será um longo dia de merda, tentando me manter acordado até a hora de não conseguir dormir novamente, esse sou eu. Sou eu quem procura toda espécie de sono artificial; calma artificial; alegria artificial; sorriso artificial. Sou eu. Agora não aguento mais, preciso dormir: tirar um cochilo daqueles e nunca mais sonhar. Dormir com gosto e acordar com a marca do travesseiro no rosto todo. Babar. Roncar. Eu quero cair da maldita cama. Vá embora e me deixa dormir um pouco.

Por quê continuar escrevendo sobre as mesmas coisas quando elas não deveriam me preocupar mais? Porque ainda me atormentam. E porque em cada linha que escrevo fica um pouco mais de você, e logo posso dizer que apaguei todo parágrafo que restava em minha cabeça que não me deixava dormir, poderei escolher quando e como lembrar de você. Então lerei esses textos, que vai ser tudo o que terei ainda de você - e lerei quando me apetecer apenas. Diabos, vou esquecer tudo isso e você será uma lembrança borrada deixada em algum lugar. Estou contando as palavras que restam de nós e elas estão acabando, tenho-as na ponta dos dedos e agora não conto usando também os seus. Eu vejo o fim e ele não é nada grandioso, por melhor escrita que seja uma história, elas sempre terminam da mesma maneira: com um "fim" tacanho e acanhado desenhado da forma mais banal possível. Eu vou esquecer seu corpo infernal. Eu vou encher meu copo com algum líquido que me dê vida - e vai ser um porre enorme.

Os pássaros são sempre os primeiros a acordar, pouco antes do amanhecer. Escutei o primeiro deles gritando ao longe, o dia vai começar novamente e eu não dormi mais uma vez.

"Fim"

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