quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Ela levantou, andou pelo quarto, fumou alguns cigarros e fez um ou outro comentário - sobre a chuva que nunca termina, afinal.

Me olhou da porta, achei que fosse embora, por um momento - mas voltou - me beijou com gosto de fumaça recém tragada a plenos pulmões. Se enroscou em meu corpo, nos bagunçamos na cama ainda um pouco. Sem calma, sem pressa, sem qualquer coisa além de eu e ela e o desejo de nós mesmos.

Fico olhando seu corpo, a meu lado, todo enroscado (em mim). Vejo aqui e ali alguma marca, marcas vermelhas que ficaram de nosso amor...

... de loucos.

Sexo recitado, proibido e roubado, comido. Tomado a contragosto, dado com gosto.

Marcas deixadas por minhas mãos...
... ávidas
... receosas

Em sua pele, deliciosa.

sábado, 16 de janeiro de 2010

O louco

Perguntais-me como me tornei louco. Aconteceu assim:
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Um dia, muito tempo antes de muitos deuses terem nascido, despertei de um sono profundo e notei que todas as minhas máscaras tinham sido roubadas - as sete máscaras tinham sido roubadas - as sete máscaras que eu havia confeccionado e usado em sete vidas - e corri sem máscara pelas ruas cheias de gente, gritando: "ladrões, ladrões, malditos ladrões!"
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Homens e mulheres riram de mim e alguns correram para casa, com medo de mim.
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E quando cheguei à praça do mercado, um garoto trepado no telhado de uma casa gritou: "É um louco!". Olhei para cima, para vê-lo. O sol beijou pela primeira vez minha face nua.
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Pela primeira vez, o sol beijava minha face nua, e minha alma inflamou-se de amor pelo sol, e não desejei mais minhas máscaras. E, como num transe, gritei: "Benditos, benditos os ladrões que roubaram minhas máscaras!"
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Assim me tornei louco.
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E encontrei tanto liberdade como segurança em minha loucura: a liberdade da solidão e a segurança de não ser compreendido, pois aquele que nos compreende escraviza alguma coisa de nós.

Gibran Khalil Gibran

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

A vida é a causa da morte.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Vivo pelo meu vício. Viciado que sou por estas coisas, que em face de alguma delas me salta o coração para todos os lados, acelerado - feito louco em si, loucura cardíaca. Não sei se ele se empolga por causa ou efeito disso tudo, talvez os dois - pode ser. Sei que a lembrança ou o momento nele mesmo me empolgam o sangue que dança e pululante pelo corpo efêmero. A corrente sanguinea antes se desacorrenta, parece correr por todos os lugares sem lei nem rei - corre em profusão de loucura vermelho-sangue. Essas coisas que me animam a própria vida.
Vivo olhando para meu vício, esperando o próximo momento em que me arrebata num só ataque e rápido como chega logo se vai. Minha espera se faz sentida, já que me aninha na saudade do estupor. Lânguido, simples viciado, que almeja seu momento de gozo, por minha droga.
Vivo em meu vício, viciado que sou. E quando chega a hora, a própria saudade tem seu quinhão de responsabilidade na criação de momento tão ideal. Que não maledigam a saudade perto de mim, lhe tenho apego - por vezes a tenho como alento, afinal. O vício, além disso, existe no momento do ato mas em virtude da falta que cria. Quando chega quereria eu que jamais acabasse, mas sua ausência se faz a essência de um gosto agridoce ele mesmo viciante ao paladar. Baita confusão essa profusão de vai-e-volta.
O vício precisa de doses homeopáticas de saudade, equilíbrio fácil de ser quebrado. Maldito o vício em si, pois também o desequilíbrio me interessa quando se trata dele! Os sentimentos extremados, descontrolados - doidos de pedra - também os quero! Sentimento de loucura.
Vivo em meu vício. Vivo. Perduro. Viciado, mas vivo. Além do vício, o quê?
Cada um com seus próprios vícios. Proporções e tipos muito pessoais. D'alguns talvez menos ortodoxos, de outros nem um pingo de ortodoxia. Todos igualmente viciantes. Quem não tem vícios que atire a primeira pedra. Ninguém vai para o céu, afinal.
Por meu vício eu vivo e para ele também. Ao menos vivo.
Momentos etéreos, dignos de saudade.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

A Loucura
Loucura? Mas afinal o que vem a ser a loucura?... Um enigma... Por isso mesmo é que às pessoas enigmáticas, incompreensíveis, se dá o nome de loucos...
Que a loucura, no fundo, é como tantas outras, uma questão de maioria. A vida é uma convenção: isto é vermelho, aquilo é branco, unicamente porque se determinou chamar à cor disto vermelho e a cor daquilo branco. A maior parte dos homens adotou um sistema determinado de convenções: É a gente de juízo... Pelo contrário, um número reduzido de indivíduos vê os objetos com outros olhos, chama-lhes outros nomes, pensa de maneira diferente, encara a vida de modo diverso. Como estão em minoria... são doidos...
Se um dia porém a sorte favorecesse os loucos, se o seu número fosse o superior e o gênio da sua loucura idêntico, eles é que passariam a ser os ajuizados: "Na terra dos cegos, quem tem um olho é rei", diz o adágio: na terra dos doidos, quem tem juízo é doido, concluo eu.

Mário de Sá-Carneiro

sábado, 2 de janeiro de 2010

Pesadelos, agora que durmo sozinho. Mas acordo.