segunda-feira, 30 de novembro de 2009
quinta-feira, 26 de novembro de 2009
Deitado, fico olhando pela janela. Vejo um céu de nuvens cor de chumbo se formar, o vento ligeiro traz cada uma delas que forma todo um teto cinzento de perniciosas nuvens que prenunciam a chuva – fico pensando numa dança de passos rápidos debaixo dela. Ou passos lentos, de corpo junto e inteiro, olho-no-olho-mas-não-pise-no-meu-pé, sabe? Mas o que me resta é ficar observando as nuvens. Olho pela janela que outrora você soprou e nas marcas do seu hálito escreveu nossos nomes, e desenhou aqueles desenhos que só faziam sentido depois que você explicava – mas que depois de explicados tudo era muito óbvio! As coisas que só você enxergava... Fico olhando pela janela dos seus desenhos, enquanto se formam as nuvens que vão cuspir a chuva que vai apagá-los da minha janela, e as pegadas que deixamos por algum lugar qualquer. A chuva vem para limpar as marcas que deixamos por aí. Você pode estar andando pelas ruas bem agora, e essa água toda pode estar me tirando de suas roupas e de seu corpo - bem agora. Agora que já não sei mais por onde anda. Não é mais nossa dançante chuva que entoa uma canção na nossa janela. Passou a ser muito mais a sua chuva, e o modo como você a vê, e a minha própria chuva e como tento encontrar você por entre os respingos daqui e dali. Fenômenos distintos arraigados em meu próprio vinho tinto que embala esse prenúncio de tempestade. Procuro as mesmas notas de outrora nas batidas da chuva em minha janela, as notas que ouvimos juntos – mas que só existiram enquanto dividíamos o mesmo corpo, quando fomos um só que pareciam dois. Nesse momento, prevejo a tragédia do final inacabado – que acabou antes do que deveria – e como um conforto para minhas próprias esperanças fecho a janela dos seus desenhos para que não se molhe o que existe do lado de dentro, ou seja, os seus desenhos, que sempre achei engraçados, principalmente quando me explicava o que eram, sempre muito mais complexos e cheios de detalhes do que pareciam. Protejo você dentro de mim , da chuva. Aqui ela não te toca, porque aqui estou eu com o que restou de você – se chover aqui, apagam sua obra, mas também eu me apago com ela. Não te toca porque não deixo esmorecer essa bagunça de sentimentos galantes e atávicos da imagem que eu fazia do que sempre esperei. Não sou eu mesmo, deverás, um seu desenho mal feito? Pois bem! Sou o bonequinho palito cheio de personalidade que você desenhou, mas é só você quem enxerga tantas coisas em linhas tão pobres quanto as minhas. Para todas as outras pessoas sou apenas um bonequinho palito, com uma cabeça desproporcional ao resto do corpo. Meu desalento é ficar imaginando quantos outros bonequinhos palito você ainda pode imaginar. Eu mesmo não tenho nada diferente, apenas outro boneco simplório fácil de desenhar. Meu desalento, portanto, é minha condição mesma de rabisco. Por que você não me desenhou com um chapéu bobo? Sou igual a todos os outros.
Acho que já está na hora de eu começar a usar as palavras brandas em meus textos. Sabe como é? Tornar tudo pequeno, palatável, ao alcance da mão – não porque as coisas estejam de fato tão próximas, mais por não ser plausível acreditar na imensidão de uma expressão que se torna irreal a cada passo (demasiado largo, diga-se). Traços esfumaçados e imprecisos não podem ser objeto de adoração e esperança – ou podem? Não enxergo longe, de qualquer forma, para mim são ainda menos que isso. Espere! Tampouco estarei imaginando uma vida de mediocridade para mim mesmo, mas, apenas por não ficar imaginando a todo o tempo a enorme possibilidade de pores-do-sol e ventos folheados, assim, a decepção que seria um baita trago amargo quando chegasse e se confrontasse com a grandiosidade de alguns sonhos, se torna menor – todas as coisas se amiúdam, aliás. A importância de tudo isso também se amiúda, meu bem. Isso sob a subversão da realidade que subverteu meu ambicionado estilo lingüístico – nada mais. Pois! Nem me atrevi a levar isso para além do papel riscado – na verdade, não se atreveu a sair dali, apesar de minhas vontades. O que existe mais para se dizer? Nada. Todavia, continuo escrevendo, mas de forma mais abrandada agora.
Agora que você saiu do jogo e tudo parece monótono e sem cores. Lembra-se do Coronel Mostarda e da Dona Branca? Eu adorava jogar esse jogo: Detetive. Alguém era azul, alguém negro e uma vermelha – a femme fatale, obviamente. Pois bem, não vejo mais cor alguma. Olho pela janela e o céu é cor de chumbo com nuvens opacas. Quem se importa? Já começo a adormecer de qualquer forma, me incomodo um pouco com tamanha falta de criatividade – falta de beleza, pois sem você não há beleza? – mas já começo a cair no sono. Logo não me incomodará mais, porque adormeço. Também, começarei a me habituar a essa falta de cores e dormirei com mais facilidade, a cada dia que passa. A cada dia que passa sou eu também menos cores, menos criatividade. E os dias passam, passam... E você por acaso percebe? Será que te angustia também essa infinidade de dias que vem e vão sem deixar mais nada de nós, além de fazer o favor de levar consigo o pouco que restou? Lá se vai uma memória gostosa e outra daqui - as coisas perdem todo aquele brilho, afinal. Imagens vazias e tristes. Mas que insistem em existir! Só por elas é que os dias passam tão sofríveis.
Seria melhor talvez que você nunca tivesse existido em minha vida? Para não te ver desmanchar-se em mim? Ou talvez fosse melhor que nunca houvesse um fim, para que a perfeição disso se repetisse eternamente, em novas formas de dizer venha ver como a lua sorri de escárnio dessas tristes almas pela rua, enquanto nos misturamos na cama em sorrisos acrobatas e inovadores - não que eu seja insensível com a dor alheia, apenas teria orgulho de um amor maior. Mas existe um consenso, já que não pode ser saudável ficar contemplando esse final trágico se concretizando - você partindo ao longe e sem mim. A pior parte é sofrer por possibilidades futuras e almejadas. O que poderia ser disso tudo? Ah! Como sonho com esse sonho! Talvez esse sonho mais do que concreto algum dia seja tudo que eu precise pra ser feliz. Mais do que isso, tudo aqui escrito só veio para dizer: sinto sua falta. O que houve com as palavras simples? Não faço a menor idéia. Mas toda essa confusão semântica se resume a uma coisa que é você que não está aqui. Resta saber quem está errado: a esperança na grandiosidade das palavras dessa vez vividas na vida, ou a certeza do nada que sempre nos espera. O nada é sempre mais fácil.
segunda-feira, 16 de novembro de 2009
quarta-feira, 11 de novembro de 2009
domingo, 1 de novembro de 2009
só pra ver se alguém repara em mim na rua
e meu cabelo desarrumado só porque
ninguém repara em minha bagunça
Também tomei um trago pra ver se esqueço
pra ver se desapareço dissolvido em álcool
meu violao são notas tortas [que enchem buracos]
das coisas que perdi pela vida afora
Encha meu copo, pra beber com meu amigo imaginário
tranca a porta do quarto, enquanto eu aperto o meu laço
Também joguei com todo tipo de sorte
pra ver se alguma me dava um caminho
que depois eu digo que encontrei sozinho
meu bem, o que eu queria era o seu decote [vem comigo]
Desarruma a cama, finge que se esconde na coberta
me engana que sonha comigo enquanto me espera
Desinteressados tragos
desinteressados tragos