terça-feira, 18 de maio de 2010

Dois corpos entrelaçados se olham, enquanto brincam de ser feliz. Dançam pelo quarto calados em seus passos ensaiados e não precisam de música. Subindo pelas paredes fazem amor e sentam no teto para fumar um cigarro depois do sexo e conversam. A fumaça corre em direção ao chão. Ninguém entende o que eles falam, lá em cima, somente eles sabem o que querem dizer. (Como uma piada interna, só deles). Descem para a cama e se embolam nos cobertores, tentam esquentar os pés um do outro porque esse inverno está muito frio. Se abraçam e se amassam num pequeno colchão de solteiro (onde teoricamente cabe um solteiro, mas aqui tem duas pessoas que se encaixam perfeitamente bem nesse espaço); na verdade, não se importam nem um pouco em se apertar ainda mais - diria até que sobra cama nesse lugar. Olhando de longe, parece uma bola de gente cheia de cores e texturas. Mais de perto, você não sabe dizer o que é, porque só eles podem lhe dizer o que são naquela hora. Para ser sincero, é como uma pintura expressionista: você não a entende, apenas sente o que ela quer dizer. Assim fomos eu e você, um quadro maravilhoso. Repletos de cores e significados, pinceladas rápidas e furtivas, outras fortes, outras pedantes; um quadro inesquecível jamais pintado. Quem em sã consciência conseguiria imaginar uma imagem tão perfeita? Ou, ainda mais sério, onde conseguiriam cores tão vivas para colocar isso tudo numa tela? Não acho possível, visto que nós mesmos não somos possíveis - nem existimos. Somos o que além disso? Sozinhos, somos auto-retratos simplórios, mas, juntos, somos uma pintura imaginária sem autor nem quadro. Somos tudo o que quisermos, sem limites de traços mal feitos. Somos.

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