domingo, 18 de julho de 2010

Mágicas de trapézio

Estavam sentados um de frente para o outro, mas, mesmo nessa posição, às vezes, as pessoas não se enxergam. Eles se entreolharam e poderia dizer que todos sabiam que algo sairia daquele olhar. O garoto deu um sorriso comprometedor que dizia “eu vou aprontar” e, a garota, com um olhar pernicioso entrevia “ele vai aprontar”. Ela mordeu o lábio inferior com seu dente canino superior, o que lhe dava um ar ainda mais maroto, enquanto esperava até ele fazer alguma coisa. O garoto se remexeu todo no banco em que estavam sentados – um banco azul, pintado da cor do céu, ou da cor que mais chegou perto de se parecer com um céu. Ele não demorou muito para mostrar suas presas. Fez um movimento ligeiro com as mãos e disse:

- Quer ver uma mágica que venho treinando para te mostrar?

A garota, acostumada com essas idéias repentinas e absurdas de seu garoto, respondeu:

- Para mim, não é? Sei!

Ele fingiu ignorar o tom irônico, reação que a deixaria ainda mais brava. E, num passe de mágica, passou a mão por aqui e por ali e de repente tirou de trás da orelha da garota... nada! Uma coisa notável, sua mão voltava repleta de nada. Ninguém sabia de onde ele tinha tirado aquilo, de trás da orelha da garota que não era! Mas, ali estava, uma mão cheinha de nada. Ele disse, para a garota boquiaberta:

- Aqui, todo o amor que eu posso oferecer para alguém. Estava guardado atrás de sua orelha todo esse tempo.

E assim, num outro passe de mágica, igualmente ligeiro, aquele nada todo virou em um tudo enorme. Era amor à primeira mágica. Diga-se, não vi ele fazer esse truque para mais ninguém, além dela. Ele não era um Don Juan das cartolas com coelhinhos.

Então, ambos se levantaram do banco azul da cor do céu. Se olharam outra vez, procurando um pedacinho de mentira naquele momento eterno e, como não encontraram nada de errado ali, ficaram assustados. Se beijaram de todas as formas possíveis num único beijo ligado a outro e a outro e foram embora. Ele tinha um espetáculo de mágicas no circo para dali a meia hora, ela tinha uma vida de verdade para a qual voltar. Nunca mais se viram e o garoto se tornou um atirador de facas amargurado e distraído – combinação bastante perigosa essa.

3 comentários:

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  2. o bacanudo me pertence... seu chatooo... ótimos textos... parabéns...
    beijos thamy

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  3. eu sempre descobria seus truques...mesmo assim era engraçado !!

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