sábado, 6 de março de 2010

Eu vou indo. Espero ter deixado alguma esperança de saudade, ou alguma coisa qualquer antes de partir. Sigo andando sozinho por ruas que não conheço, observando céus estrelados e luas que não são meus - que não fazem parte de mim, que não tem nada que nos lembre quem somos. Já não encontro seus olhos nas nuvens, nem sinto você me chamando nas noites intermináveis sozinhos. Não sei mais nada! Tanto desejo por um abraço bem apertado do tipo fica aqui e não saia nunca mais, do tipo você é meu tipo, você cabe no meu abraço e encaixa perfeito, você cabe no meu coração e ele bate sem dificuldade mesmo com você lá dentro. Eu vou indo: caminhando por horas, correndo até não aguentar mais (o que não demora por causa desse físico débil). Parto a passos largos e não olho mais para trás. Eu corro e não me falta mais pernas e não me falta mais ar e não me falta mais nada e corro e corro e corro para nunca mais. Sem parar, sem olhar para trás. Das dúvidas não resta mais nada, sobrou a certeza que tanto tentei duvidar. Agora eu sei, o que sempre imaginei. Não me falta mais nada, posso até voar para onde quiser. Eu fui a idéia de mim, quando não me crêem mais, me desfaço em fumaça de pensamento forçado. Agora sou todo fumaça que logo assopram para longe para que não entre nos olhos. Malditos metafísicos que criaram a idéia de mim e de tão eloqüentes até me convenceram!

Espero que quando olhe no espelho encontre no fundo de seus olhos meu lampejo, meu grito e meu brilho. Em teu sorriso a minha piada sem graça e no teu coração a minha verdade ingrata. Quando olhar ao longe e confundir o vulto daqueles que passam com minha própria sombra, então quero saber que seu coração se aperta por minha falta. Não pelo simples gosto do arrependimento que talvez aí brote, mas apenas como alento para minha alma que grita por algum sentimento seu. Espere eu chegar para te dar bom dia com um sorriso e um beijo, e me confunda com todos que batem à sua porta, até a magia acabar com o milagre do olho-mágico. Sinta por mim e sinta minha falta. Mande notícias, envio um postal de lá. Da casa do caralho, vou à merda. Ao inferno abraçar o capeta. Corte aqui para saídas estratégicas pela esquerda, ou pela direita. Por aqui se sai indo direto pela frente do palco e cumprimento todos que assistiram ao meu show e nem pagaram por isso. Meu muito obrigado a quem aplaude e a quem vaia: deixem as flores no camarim, um beijo. Eu vou indo correndo e sem parar jamais de correr só corro só corro e corro para nunca mais sem vírgula sem pausa sem parar.

Deixarei a porta aberta para que você tente me encontrar, e quando perceber que já não estou mais aqui, me mudei para longe, então sorrirei em algum canto desse mundo. Então terei o prazer de sentir sua falta e imaginar que talvez sinta alguma saudade de mim. Tudo isso só para tentar arrancar um sentimento seu. Malditas idealizações e essa coisa idiota de imaginar que aquilo que sonhamos é o que você é, tomar posse da personalidade de alguém e ficar tentando enfiar as coisas que você quer ter ali. Esperança é uma bosta, esperar esperançoso. Veja, estou amassando todas as nossas lembranças e jogo no lixo onde já estavam meus sonhos (e não coloco qualquer ponto de exclamação na frase, qualquer sinal gráfico para dar sentimento - é só uma frase agora). Minha vida é só passado, minha vida é minha literatura: escrevi sobre meu passado.

Corro corro corro, quase chegando a meu lugar. Onde devo ficar, onde querem que eu fique. É estranho esperar por coisas que nunca chegam, será que existem? Acendo meu cigarro e a fumaça que dança no ar é meu oráculo e diz "nunca mais", como um corvo de mau agouro.

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