sexta-feira, 19 de março de 2010

Abro a janela e olho o mundo lá fora. Fico imaginando se alguma daquelas pessoas pode ser você, que me procura. Infelizmente não enxergo longe, portanto, nunca saberei se você é uma delas. Talvez se eu me esforçar. Talvez você não esteja ali e seja como terminar com o pouco do que ainda enxergo. Sentado, pensando em muitas coisas, tantas que já nem sei mais. Penso bobeira; penso e sonho. Em um acesso de raiva, ou seja lá o que for, jogo pela janela as rosas que estavam sobre a cama, agora elas pairam no ar e fecho os olhos antes que elas toquem o chão - para mim elas nunca deixaram de flutuar, vão estar em minhas lembranças como estiveram no céu. Nunca tocaram o chão, não se desfizeram em restos de pétalas. Os doces que gostamos vão para o lixo, junto com os planos para a noite que valia um ano bem vivido. Empurro algumas coisas para debaixo do tapete, na esperança de esquecê-las por lá e algum dia, por acaso, encontrar tudo e ter alguma lembrança - o tapete fica com uma saliência que é vista de longe, nunca vou conseguir esquecer esse negócio desajeitado no meio do meu quarto. Caminho de um lado para o outro, e volto e vou. Passeando por todos os quartos, sem saber para onde ir. Saio de casa, ando pelas ruas - a cabeça baixa de quem não quer ver nada. As calçadas sujas, as ruas cheias de pessoas desconhecidas que não se importam comigo. Os carros rápidos que se cruzam e não existem. As praças e casas. Não vejo rostos, não vejo nada. Assopro tudo isso para longe, tão frágil que é. Trago amargo. Desinteressados tragos. Ouço risadas longas, conversas ao longe. Ouço passos largos e buzinas enraivecidas. Continuo andando como sempre tenho feito, caminhando a esmo por aí. Como se fosse encontrar o que procuro em alguma esquina, como se o que procuro fosse surgir na minha frente, bater em mim e gritar que era isso que eu procurava. Vou andando distraído, fingindo qualquer coisa, cantarolando alguma música que não tem nada a ver comigo, para não ter que cantar minhas próprias e morrer de saudades. Não conseguirei terminar esse texto, antes ele termine a mim.

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