sexta-feira, 11 de setembro de 2009

“Já é tarde, já é tarde” é o discurso voraz de minha louca insanidade – essa minha lúcida loucura que, quando vejo por aí, corre como uma criança inocente e chora como um velho rancoroso, acima de tudo voa (e muito bem), sai pela janela do quarto andar sem passos trôpegos, sem espera e voa. Que belas asas você tem, talvez sejam tão belas quanto as minhas. Mas as que tenho já se atrofiam e as que vejo são as suas. Talvez eu devesse te dar ouvidos, porque tudo em mim se atrofia – por falta de uso, ou por uso indevido. Será que se atrofia ou apodrece escarnecendo em longeva tristeza? Discurso loquaz esse teu, mas será que não te dou ouvidos? Talvez eu já esteja vivendo essa vida que você me criou.

Perdi o sono enquanto te desejava boa noite, quando disse “você vicia” sussurrado em teu ouvido. Agora, quando durmo, sou todo dormir sem sonhos. Agora, quando durmo, sou dormir sem ter sono, sou sonhar sem ter sonhos. Foi logo depois de você adormecer que vi passar minha loucura com suas belas asas eternas me chamando. E agora eu olho alheio, enquanto espero, absorto. Mas eu olho, e vejo, aquilo que meus delírios já diziam, enquanto todos e eu mesmo apenas olhavam para eles e sorriam. Já é tarde, já é tarde, agora sou eu com as mesmas falas de minha insanidade solícita.

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