terça-feira, 15 de setembro de 2009

Eu conheço você por debaixo da maquiagem, cada traço mal traçado e marcas demasiado profundas. Procurei justamente os arranhões que sua vida deixou impressos em seu rosto, as meias-tintas que os podem cobrir não me são suficientes. Mexi em sua bagunça, porque todo bagunceiro encontra tudo o que procura, nos lugares mais inusitados em que largou alguma coisa, e ninguém entende como isso acontece. O quê é isso além de ser plenamente você em estado bagunçado? Mais do que a perfeição do seu sorriso, eu amo a desorganização de sua vida que é tão-somente sua e de mais ninguém. Cada bagunça é unica de seu dono, mas quantos milhares de sorrisos iguais eu encontro? Com muitos ou poucos dentes, meia-boca ou boca e meia. E a sua bagunça só você conhece, você não a disfarça. Ao contrário daqueles outros cantos muito organizados da sua vida, que se escondem debaixo do tapete, eu prefiro a poeira na parede e o pó nas janelas. Desconcertante sujeira, eu não reclamo, sou todo trapos mal lavados. Guardo um segredo, te vi sem maquiagem. Gostei do que li em seu rosto. Adoro seu corpo todo marcado. Tenho esse amor todo louco pelo seu inconveniente, enquanto os outros te ignoram tudo. Eu olho para você e procuro enxergar lá dentro, onde você é tudo o que quer ser. Eu vejo como você é linda sem maquiagem e me procuro, lutando contra a sombra em seus olhos, em algum lugar mais perto de você do que o resto das coisas. Eu vejo uma cicatriz sussurrada para fora da pintura e me pergunto se esse sussurro é para mim ou é para toda a noite. Concordo com o mundo ao nosso redor: você é maravilhosa maquiada. Mas sou todo suspeito para dizer isso, porque para mim você é linda mesmo ao acordar toda borrada por tintas da noite anterior, com o rosto achatado, abarrotado e amassado, com o travesseiro marcado nele. Devo dizer, contudo, que gosto sobremaneira da sua pintura, porque seu rosto dileto de muitos só eu conheço em plenitude e todo manchado.

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