quarta-feira, 11 de novembro de 2009

"Ah, meu Deus, tudo o que eu quero - já disse, e repito - é um ventre branquelo e gordinho para descansar. Sexo é bom, o problema é que custa caro e tem o depois. Uma infância claustrofóbica. Adolescência, idem. A primeira vez igualzinha semana passada. Uma vida sentimental miserável, falta de dinheiro e felicidade pro consumo alheio, depois das dez sinto sono. Eu gostaria de decepcionar aqueles que acreditaram em mim. Ir embora. Além disso, eu sonho com um grande amor em Buenos Aires, nos arredores da Telcahuano con Bartolomé Mitre. Um inverno melancólico (solos de bandoneón, praças impossíveis). Ela de cachecol xadrez. Eu gostaria, também de experimentar o assassinato com requintes de crueldade, planejar a coisa. Tenho que ouvir alguns discos e ler meia dúzia de livros. Mas não passo sem comer cocô de louco. Um dia - vestido de arlequim, eu mesmo - me lanço do alto de um prédio de trinta andares. A grande jogada, creio, é se matar depois de velho, vingar-se plenamente."

Marcelo Mirisola, O Azul do Filho Morto.

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