terça-feira, 27 de setembro de 2011

Sento à janela e sorrateiramente acendo um cigarro com um estalo da chama entre meus dedos. Sento e sinto o vento que carrega a fumaça pro lado de lá da minha vida no parapeito da janela entreaberta. Ouço a um passo abaixo o burburinho das pessoas que passam despreocupadas entre calçadas mal pavimentadas cheias de lixo e lágrimas. Vejo quando olham para cima uma centelha de vida, um resquício de morte e um pouco de maquiagem borrada escorrendo entre seus dentes amarelados pelo fumo e a fome. Dou uma tragada longa para encher os pulmões e solto mais uma nuvem da tempestade que se forma sobre minha cabeça, a tormenta que chega a passos brandos e calculados como algum filho da realeza. A real tristeza de caminhar pelo parapeito em prantos de sublime extemporâneo meditativo: nada. Passos brandos e calculados de algum filho da puta que acendeu um cigarro e joga a bituca ainda acesa na cabeça de alguém que passa lá embaixo despreocupado.

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