terça-feira, 1 de dezembro de 2009

O Urso de pelúcia e a Bailarina da caixinha de músicas

Acordei assustado - nem durmo direito e acordo assim ainda por cima! Olho ao lado e encontro sua caixinha aberta, minha Bailarina. Acordei pelo som ou pela vontade mesma de ver a ti? Será meu desejo tão intenso que o simples estalo da pequena e frágil tranca se abrindo possa me acordar? Quase certeza que sim.

Porque sei que esperava ansioso você aparecer para mim novamente. Afinal, não consigo esquecer de você, meu bem. Depois de te ver dançando ao som daquele piano muito bem arranjado, com seus passos deliciosos. Malditos passos treinados, agora estou viciado nessa música e em você.

Que tesouros podem estar guardados na caixinha além de você mesma? Não sei. Eu só vejo a ti e não acho que possa existir algo mais. Gosto de imaginar que dança só para mim também. E invente esses passos maravilhosos só para mim! Me olhe entre uma pirueta e outra, me deseje enquanto te desejo também. Que loucura foi aquele dia em que pensei que me olhava! Uma olhada meio distraída de minha parte e, de repente, parecia que você estava me observando - e me enxergava. Era assim? Você me viu naquele dia? Diga que sim, diga que sim!

Continuo te olhando, procurando essas coisas. Não me faço de rogado, estou aqui te observando. Meu alento é te ver dançando e só. Esperando que olhe para mim em troca. Quero passos de uma dança apaixonada para mim e para dançarmos juntos.

Você parece tão triste às vezes. Ensinada a dançar toda vez que a caixa se abre, nada mais. Passos desenganados, afinal, são todos iguais. São todos iguais? Perceba, minha Bailarina, que vejo tudo diferente, tudo muito e possível em suas mãos. Eu me postaria sem reclamar bem aí do seu lado e te mostraria isso, mas não sei se é o que você quer. Digo que nada é o mesmo, Bailarina, a partir do momento que você dance por alguma coisa. Dance por mim.

Talvez seja eu. O brinquedo quebrado e velho no canto do quarto pode ser seu verdadeiro espectador! Olhe para mim aqui, debaixo da cama. Espere! Deixa eu pegar ali meu braço que caiu. Agora sim, olhe para mim. O que achou? Dance para mim porque acredito que só eu enxergo o que você é, não vejo sua dança apenas, sabia? Procuro a plenitude desse amor em cada passo teu, e você mesma em cada um deles, mas não faço de sua dança tudo o que você é. Eu só estou distante porque não deixa que me aproxime - porque não sei se quer que eu chegue perto.

Luto contra o pó que cobre meus olhos para conseguir te ver sair de sua caixinha. Eu quero te ver. Eu quero te ver! Pelo amor de Gepeto, Bailarina. Eu quero te ver! Como posso te esquecer se cada vez que sai de sua caixinha você parece ainda mais linda? Será que você espera ansiosa para me ver? Diga que sim e eu me arranco da minha condição mesma de brinquedo estropiado, guardado numa infância desgastada - debaixo da cama - e vou até aí te buscar! Mas eu nem sei dançar... Eu nem sei dançar e desejo a linda Bailarina da caixinha de músicas.

Você deve estar apaixonada por algum dos soldadinhos de chumbo, imagino. O que te faria olhar para um ursinho de pelúcia maltrapilho? E tem todo esse maldito pó que guardam debaixo da cama junto comigo. Malditos soldadinhos de chumbo!

Ainda assim, sonho em algum dia ser seu par ideal numa dança eterna quando a caixinha se abre, embalados por notas brandas dançando de corpo colado, e depois nos guardamos novamente. Todos os outros te vêem dançar, Bailarina. É suficiente para eles. Mas eu quero estar com você quando estiver dentro de sua caixa, não quero apenas a dança perfeita, mas também a claustrofobia
da caixa - do seu lado.

Não consegui prender novamente meu braço esquerdo que caiu mais uma vez. Um de meus olhos está preso por um fio apenas, logo cai. Minha orelha direita se perdeu numa brincadeira - no tempo em que eu ainda era brinquedo novo. Tenho pó e sujeira por todo meu corpo de pelúcia. Não consigo sequer derramar uma lágrima, por você e para me limpar. Porque sou todo brinquedo. Guardei, contudo, esse coração no meu peito que diz "eu te amo", costurado de forma tosca aqui, para te entregar um dia, Bailarina. Olhando bem, esse coração é tão mal feito que acho que sou brinquedo dos mais baratos. Olhando bem, acho que vou ter vergonha de entregar uma coisa tão feia para uma bailarina de cristal que dança ouvindo notas tão delicadas de piano. Talvez a parte debaixo da cama seja meu lugar, e aqui eu dava guardar essas coisas

Mas o pó continua incomodando.

Continue dançando, por favor, mesmo que não seja por mim, porque vou continuar imaginando que você me enxerga - mesmo que talvez não me veja.

Bailarina, eu amo você.

Um comentário: