quarta-feira, 16 de dezembro de 2009
quarta-feira, 2 de dezembro de 2009
terça-feira, 1 de dezembro de 2009
O Urso de pelúcia e a Bailarina da caixinha de músicas


segunda-feira, 30 de novembro de 2009
quinta-feira, 26 de novembro de 2009
Deitado, fico olhando pela janela. Vejo um céu de nuvens cor de chumbo se formar, o vento ligeiro traz cada uma delas que forma todo um teto cinzento de perniciosas nuvens que prenunciam a chuva – fico pensando numa dança de passos rápidos debaixo dela. Ou passos lentos, de corpo junto e inteiro, olho-no-olho-mas-não-pise-no-meu-pé, sabe? Mas o que me resta é ficar observando as nuvens. Olho pela janela que outrora você soprou e nas marcas do seu hálito escreveu nossos nomes, e desenhou aqueles desenhos que só faziam sentido depois que você explicava – mas que depois de explicados tudo era muito óbvio! As coisas que só você enxergava... Fico olhando pela janela dos seus desenhos, enquanto se formam as nuvens que vão cuspir a chuva que vai apagá-los da minha janela, e as pegadas que deixamos por algum lugar qualquer. A chuva vem para limpar as marcas que deixamos por aí. Você pode estar andando pelas ruas bem agora, e essa água toda pode estar me tirando de suas roupas e de seu corpo - bem agora. Agora que já não sei mais por onde anda. Não é mais nossa dançante chuva que entoa uma canção na nossa janela. Passou a ser muito mais a sua chuva, e o modo como você a vê, e a minha própria chuva e como tento encontrar você por entre os respingos daqui e dali. Fenômenos distintos arraigados em meu próprio vinho tinto que embala esse prenúncio de tempestade. Procuro as mesmas notas de outrora nas batidas da chuva em minha janela, as notas que ouvimos juntos – mas que só existiram enquanto dividíamos o mesmo corpo, quando fomos um só que pareciam dois. Nesse momento, prevejo a tragédia do final inacabado – que acabou antes do que deveria – e como um conforto para minhas próprias esperanças fecho a janela dos seus desenhos para que não se molhe o que existe do lado de dentro, ou seja, os seus desenhos, que sempre achei engraçados, principalmente quando me explicava o que eram, sempre muito mais complexos e cheios de detalhes do que pareciam. Protejo você dentro de mim , da chuva. Aqui ela não te toca, porque aqui estou eu com o que restou de você – se chover aqui, apagam sua obra, mas também eu me apago com ela. Não te toca porque não deixo esmorecer essa bagunça de sentimentos galantes e atávicos da imagem que eu fazia do que sempre esperei. Não sou eu mesmo, deverás, um seu desenho mal feito? Pois bem! Sou o bonequinho palito cheio de personalidade que você desenhou, mas é só você quem enxerga tantas coisas em linhas tão pobres quanto as minhas. Para todas as outras pessoas sou apenas um bonequinho palito, com uma cabeça desproporcional ao resto do corpo. Meu desalento é ficar imaginando quantos outros bonequinhos palito você ainda pode imaginar. Eu mesmo não tenho nada diferente, apenas outro boneco simplório fácil de desenhar. Meu desalento, portanto, é minha condição mesma de rabisco. Por que você não me desenhou com um chapéu bobo? Sou igual a todos os outros.
Acho que já está na hora de eu começar a usar as palavras brandas em meus textos. Sabe como é? Tornar tudo pequeno, palatável, ao alcance da mão – não porque as coisas estejam de fato tão próximas, mais por não ser plausível acreditar na imensidão de uma expressão que se torna irreal a cada passo (demasiado largo, diga-se). Traços esfumaçados e imprecisos não podem ser objeto de adoração e esperança – ou podem? Não enxergo longe, de qualquer forma, para mim são ainda menos que isso. Espere! Tampouco estarei imaginando uma vida de mediocridade para mim mesmo, mas, apenas por não ficar imaginando a todo o tempo a enorme possibilidade de pores-do-sol e ventos folheados, assim, a decepção que seria um baita trago amargo quando chegasse e se confrontasse com a grandiosidade de alguns sonhos, se torna menor – todas as coisas se amiúdam, aliás. A importância de tudo isso também se amiúda, meu bem. Isso sob a subversão da realidade que subverteu meu ambicionado estilo lingüístico – nada mais. Pois! Nem me atrevi a levar isso para além do papel riscado – na verdade, não se atreveu a sair dali, apesar de minhas vontades. O que existe mais para se dizer? Nada. Todavia, continuo escrevendo, mas de forma mais abrandada agora.
Agora que você saiu do jogo e tudo parece monótono e sem cores. Lembra-se do Coronel Mostarda e da Dona Branca? Eu adorava jogar esse jogo: Detetive. Alguém era azul, alguém negro e uma vermelha – a femme fatale, obviamente. Pois bem, não vejo mais cor alguma. Olho pela janela e o céu é cor de chumbo com nuvens opacas. Quem se importa? Já começo a adormecer de qualquer forma, me incomodo um pouco com tamanha falta de criatividade – falta de beleza, pois sem você não há beleza? – mas já começo a cair no sono. Logo não me incomodará mais, porque adormeço. Também, começarei a me habituar a essa falta de cores e dormirei com mais facilidade, a cada dia que passa. A cada dia que passa sou eu também menos cores, menos criatividade. E os dias passam, passam... E você por acaso percebe? Será que te angustia também essa infinidade de dias que vem e vão sem deixar mais nada de nós, além de fazer o favor de levar consigo o pouco que restou? Lá se vai uma memória gostosa e outra daqui - as coisas perdem todo aquele brilho, afinal. Imagens vazias e tristes. Mas que insistem em existir! Só por elas é que os dias passam tão sofríveis.
Seria melhor talvez que você nunca tivesse existido em minha vida? Para não te ver desmanchar-se em mim? Ou talvez fosse melhor que nunca houvesse um fim, para que a perfeição disso se repetisse eternamente, em novas formas de dizer venha ver como a lua sorri de escárnio dessas tristes almas pela rua, enquanto nos misturamos na cama em sorrisos acrobatas e inovadores - não que eu seja insensível com a dor alheia, apenas teria orgulho de um amor maior. Mas existe um consenso, já que não pode ser saudável ficar contemplando esse final trágico se concretizando - você partindo ao longe e sem mim. A pior parte é sofrer por possibilidades futuras e almejadas. O que poderia ser disso tudo? Ah! Como sonho com esse sonho! Talvez esse sonho mais do que concreto algum dia seja tudo que eu precise pra ser feliz. Mais do que isso, tudo aqui escrito só veio para dizer: sinto sua falta. O que houve com as palavras simples? Não faço a menor idéia. Mas toda essa confusão semântica se resume a uma coisa que é você que não está aqui. Resta saber quem está errado: a esperança na grandiosidade das palavras dessa vez vividas na vida, ou a certeza do nada que sempre nos espera. O nada é sempre mais fácil.
segunda-feira, 16 de novembro de 2009
quarta-feira, 11 de novembro de 2009
domingo, 1 de novembro de 2009
só pra ver se alguém repara em mim na rua
e meu cabelo desarrumado só porque
ninguém repara em minha bagunça
Também tomei um trago pra ver se esqueço
pra ver se desapareço dissolvido em álcool
meu violao são notas tortas [que enchem buracos]
das coisas que perdi pela vida afora
Encha meu copo, pra beber com meu amigo imaginário
tranca a porta do quarto, enquanto eu aperto o meu laço
Também joguei com todo tipo de sorte
pra ver se alguma me dava um caminho
que depois eu digo que encontrei sozinho
meu bem, o que eu queria era o seu decote [vem comigo]
Desarruma a cama, finge que se esconde na coberta
me engana que sonha comigo enquanto me espera
Desinteressados tragos
desinteressados tragos
sábado, 24 de outubro de 2009
sábado, 10 de outubro de 2009
Paixão... Resoluta e desenvolta. Minha paixão pé-de-valsa que dança como se flutuasse, pés descalços que correm as nuvens que se fazem chão. Toda gingado, toda rebolado. Paixão toda louca, mas com um lindo passo ritmado que segue a canção que ninguém toca, e que apenas você e eu escutamos, sussurrada ao vento e ao vazio. A própria paixão assoprada, por lábios macios, delicados, que temem desmanchá-la só por criá-la, dissolvê-la antes que seja plena – mas é plena no instante em que existe, nada mais, não exige mais. Ritmo, tonalidade, tudo se encaixa sem que ela procure se encaixar a eles. Já nasceu melodia, se fez toda a harmonia em seu sorriso em lá menor. Notas musicais de um perfeito timbre que embalam – dois passos para lá, dois passos para cá – o aconchego dessa paixão apaixonada. Passos ensaiados, passos certeiros e bem colocados, mas também improvisos de pura excitação, loucura de músico experimentado, mas que não é música, e sim paixão pura e ritmada, ao som da noite escura que deixa cair notas maravilhosas da ponta de seus dedos mágicos, em seu instrumento apaixonado. Paixão demasiado apaixonada.
domingo, 27 de setembro de 2009
Puedo escribir los versos más tristes esta noche.
Escribir, por ejemplo: "La noche está estrellada, y tiritan, azules, los astros, a lo lejos."
El viento de la noche gira en el cielo y canta.
Puedo escribir los versos más tristes esta noche.
Yo la quise, y a veces ella también me quiso.
En las noches como ésta la tuve entre mis brazos.
La besé tantas veces bajo el cielo infinito.
Ella me quiso, a veces yo también la quería.
Como no haber amado sus grandes ojos fijos.
Puedo escribir los versos más tristes esta noche.
Pensar que no la tengo. Sentir que la he perdido.
Oír la noche inmensa, más inmensa sin ella.
Y el verso cae al alma como al pasto el rocío.
Qué importa que mi amor no pudiera guardarla.
La noche está estrellada y ella no está conmigo.
Eso es todo. A lo lejos alguien canta. A lo lejos.
Mi alma no se contenta con haberla perdido.
Como para acercarla mi mirada la busca.
Mi corazón la busca, y ella no está conmigo.
La misma noche que hace blanquear los mismo árboles.
Nosostros, los de entonces, ya no somos los mismos.
Ya no la quiero, es cierto, pero cuánto la quise.
Mi voz buscaba el viento para tocar su oído.
De otro. Será de otro. Como antes de mis besos.
Su voz, su cuerpo claro. Sus ojos infinitos.
Ya no la quiero, es cierto, pero tal vez la quiero.
Es tan corto el amor, y es tan largo el olvido.
Porque en noches como ésta la tuve entre mis brazos,
mi alma no se contenta con haberla perdido.
Aunque éste sea el último dolor que ella me causa,
y éstos sean los últimos versos que yo le escribo.
[P. Neruda]
sábado, 26 de setembro de 2009
_03C.jpg)
segunda-feira, 21 de setembro de 2009
terça-feira, 15 de setembro de 2009
sexta-feira, 11 de setembro de 2009
Perdi o sono enquanto te desejava boa noite, quando disse “você vicia” sussurrado em teu ouvido. Agora, quando durmo, sou todo dormir sem sonhos. Agora, quando durmo, sou dormir sem ter sono, sou sonhar sem ter sonhos. Foi logo depois de você adormecer que vi passar minha loucura com suas belas asas eternas me chamando. E agora eu olho alheio, enquanto espero, absorto. Mas eu olho, e vejo, aquilo que meus delírios já diziam, enquanto todos e eu mesmo apenas olhavam para eles e sorriam. Já é tarde, já é tarde, agora sou eu com as mesmas falas de minha insanidade solícita.
segunda-feira, 7 de setembro de 2009
de nada
caco
velho
jogado às pedras
para que apodreça.
sábado, 5 de setembro de 2009
terça-feira, 1 de setembro de 2009
segunda-feira, 31 de agosto de 2009
sexta-feira, 28 de agosto de 2009
quinta-feira, 27 de agosto de 2009
quarta-feira, 26 de agosto de 2009
Cor sem cor, que conheço de cor e não canso de decorar e aprender – mas que ainda não sei bem também. Mancha que marca minhas veias marcadas, mancha deixada para mim que marcou minha ferida intocada. Mancha que agora é minha e me deixou manchado. Marcas, marcas na garganta. Macas, macas.. Saudade só passado, cor sem cor, não me deixa só, passado.
Embolados, enrolados, largados em qualquer canto
amassados, corpos misturados que já nem sei também
quem sou eu, ou ela, onde acabo e ela começa
O que é aquilo ou de onde vem? Ô meu deus!
Embolados, bola de gente amassada que parece,
e ninguém entende nada, este pé é meu ou teu?
Nem tenho idéia que é pé, e o que cabeça,
onde que eu termino e você já começa.
Estou um pouco em mim e muito sou ela,
nós somos um só que parecem dois corpos,
em algum canto, sobre a cama, debaixo dela.
Estamos juntos e misturados, de pé e deitados,
mais que enrolados, apertados, enganchados,
de perto, mais perto, e bem embolados.
[Feito bola de gente]
terça-feira, 25 de agosto de 2009
Eu aposto que a noite chega
Levando a vida a contragosto
Talvez demore tanto e quando chegar
Talvez eu esqueça a cor da tua pele
Por um lado, não se pode chegar a este estado de completo ser. Já foi tudo criado para não se alcançar. Mas por outro, algumas coisas chegam tão perto do passo decisivo para a transcendência de si que por instantes se vislumbram pequenas centelhas de sonhos por toda tua capacidade perceptiva. Olhos descoloridos pela vida encontram a plenitude da alma através de caminhos muito seus e sutis. Os meus se ofuscaram no brilho eterno do sonho de viver em sonhos. O que é o amor além disso? Esperança contumaz de que esteja lá – comigo.
Anoto coisas as quais quero lembrar, então, por favor, não me esqueça.
Pasmo sempre quando acabo qualquer coisa. Pasmo e desolo-me. O meu instinto de perfeição deveria inibir-me de acabar; deveria inibir-me até de dar começo. Mas distraio-me e faço. O que consigo é um produto, em mim, não de uma aplicação de vontade, mas de uma cedência dela. Começo porque não tenho força para pensar; acabo porque não tenho alma para suspender. Este livro é a minha cobardia.
[Bernardo Soares]